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terça-feira, 31 de dezembro de 2013
terça-feira, 10 de dezembro de 2013
FILHA DE MANDELA FALA SOBRE ÚLTIMOS DIAS DO PAI
Filha de Nelson Mandela fala sobre os últimos dias do pai. Em entrevista à rede britânica BBC, Makaziwe disse que os últimos momentos do líder foram “maravilhosos”
Makaziwe Mandela (Reprodução)
Uma das filhas de Nelson Mandela, morto na última quinta-feira
(05/12), aos 95 anos, relembrou os últimos momentos com o pai durante
uma entrevista à rede britânica BBC, concedida nesta segunda-feira
(09/12).
Makaziwe Mandela, nascida em 1954, é filha de Mandela com sua
primeira mulher, Evelyn Mase. A filha do ex-presidente afirmou que os
últimos momentos foram “maravilhosos” e o que o pai faleceu cercado pela
família.
“Até o último momento ele teve a nós, sabe? Os filhos estavam ali, os
netos estavam ali, Graça (sua esposa) estava ali, estivemos a seu ao
redor todo o tempo e, inclusive no último momento, estivemos sentados
com ele o tempo todo na quinta-feira”, declarou. Makaziwe afirmou que
nesse dia, pela manhã, os médicos, que cuidavam de Mandela em período
integral, informaram à família que não poderiam fazer mais nada pelo
ex-presidente.
“Acho que essa semana, da sexta a quinta-feira, foram momentos
maravilhosos, se é que se pode dizer que o processo da morte é
maravilhoso. Mas Tata (Mandela) desfrutou de momentos maravilhosos,
porque nós estávamos ali”, ela acrescentou. Makaziwe aproveitou a
entrevista para agradecer a equipe médica que se dedicou ao tratamento
do pai nos últimos meses.
Durante a entrevista, Makaziwe disse acreditar que o pai lutou não só
por liberdade política, mas também por liberdade espiritual. “Ele
(Mandela) fala sobre o fato de ser necessário coragem para perdoar.
Perdoar é uma coisa muito difícil”, explicou. “Eu acho que ele sabia que
se não perdoasse, ele seria para sempre um prisioneiro espiritual”.
Nos próximos dias, uma série de eventos devem celebrar a memória de
Nelson Mandela, considerado a maior liderança contra o regime do
apartheid, que segregou os negros da África do Sul.
Opera Mundi
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OS DIFERENTES POSICIONAMENTOS DE SETE PAÍSES SOBRE A MACONHA
Conheça sete países e suas diferentes posições sobre a maconha. Enquanto EUA e Uruguai avançam em mudanças em relação à droga, alguns países da Ásia preveem penas severas para consumo
A legalização da maconha avança em vários países (Reprodução)
1- Malásia.
Fumar maconha neste país pode causar um grande prejuízo financeiro: a multa por portar 50 gramas da substância pode chegar a US$ 6.000 dólares. Já para quem cultiva a droga, a pena “mínima” é de prisão perpétua. Tráfico e negociação de drogas, sem qualquer apelação, é passível de pena de morte.
Fumar maconha neste país pode causar um grande prejuízo financeiro: a multa por portar 50 gramas da substância pode chegar a US$ 6.000 dólares. Já para quem cultiva a droga, a pena “mínima” é de prisão perpétua. Tráfico e negociação de drogas, sem qualquer apelação, é passível de pena de morte.
2- EUA.
A maconha vem passando por um processo de transformação no país. Pela primeira vez na história, a maioria dos norte-americanos é a favor da legalização, segundo pesquisa divulgada em outubro pela agência Gallup. Quando o estudo foi feito pela primeira vez, em 1969, apenas 12% apoiavam a legalização. Hoje, são 58%. Com investimentos da iniciativa privada e participação de empresários no comércio legalizado de maconha, a economia relacionada à substância já mexe com cerca de US$ 5 bilhões no país.
A maconha vem passando por um processo de transformação no país. Pela primeira vez na história, a maioria dos norte-americanos é a favor da legalização, segundo pesquisa divulgada em outubro pela agência Gallup. Quando o estudo foi feito pela primeira vez, em 1969, apenas 12% apoiavam a legalização. Hoje, são 58%. Com investimentos da iniciativa privada e participação de empresários no comércio legalizado de maconha, a economia relacionada à substância já mexe com cerca de US$ 5 bilhões no país.
A maconha é utilizada em larga escala no uso terapêutico – mas, alguns estados, como o Colorado (saiba mais aqui),
investem na liberação do uso recreativo, potencializando a alta do
mercado da substância. No entanto, ativistas do setor alertam para os
efeitos da “privatização da droga”, argumentando que, com a maconha nas
mãos da especulação empresarial, o consumo pode ser explorado de forma
comercial, o que poderia aumentar significantemente o número de
dependentes químicos.
3 – Japão.
Grande parte da população do país asiático costuma atribuir “às forças do mal” o consumo de drogas. Em outros termos, aquele que consome a droga estaria sob influência de forças malignas.
Grande parte da população do país asiático costuma atribuir “às forças do mal” o consumo de drogas. Em outros termos, aquele que consome a droga estaria sob influência de forças malignas.
Oficialmente, a maconha – assim como outras substâncias
– é condenada pelas forças policiais. Segundo ativistas da legalização,
o país tem uma das políticas mais rigorosas de controle, apostando na
política da “demonização da maconha”, segundo o portal Anime.pt. A
lei geral de controle da maconha prevê até cinco anos de prisão para o
porte da droga. Estrangeiros que forem vistos fumando, por exemplo, são
extraditados imediatamente e provavelmente nunca mais voltarão ao país.
4 -Filipinas.
Se você for flagrado fumando maconha no país, nem que seja pela primeira vez, você provavelmente será internado imediatamente em uma clínica de reabilitação. Se for pego pela segunda vez, a pena mínima prevista é de seis anos de prisão. Uma pena mais rigorosa pode levar o indivíduo a cumprir 12 anos de regime fechado.
Se você for flagrado fumando maconha no país, nem que seja pela primeira vez, você provavelmente será internado imediatamente em uma clínica de reabilitação. Se for pego pela segunda vez, a pena mínima prevista é de seis anos de prisão. Uma pena mais rigorosa pode levar o indivíduo a cumprir 12 anos de regime fechado.
5- Uruguai.
Henrique Carneiro, doutor em História Social pela USP, defende o modelo uruguaio:
Henrique Carneiro, doutor em História Social pela USP, defende o modelo uruguaio:
6- Holanda.
Com um trabalho pioneiro e reconhecido com um dos exemplos mais eloquentes na regulação da maconha, o país diferencia em sua legislação as drogas de efeitos mais pesados (cocaína, ecstasy, por exemplo) das de mais leves (como haxixe, maconha e sedativos). A maconha não é legalizada na Holanda, mas a Justiça descriminalizou o consumidor, regularizando a venda nos chamados “coffee shops”.
7- Emirados Árabes.
Possivelmente é o país com as regras mais severas em relação à maconha. Ser flagrado fumando ou carregando qualquer que seja a quantidade, tem pena mínima de quatro anos de prisão. Além disso, caso exista vestígios da droga no sangue ou na urina, a polícia pode acusar o usuário de “posse de drogas”. Em 2012, um homem foi preso no aeroporto por ter vestígios de 0,003 gramas de maconha na meia. O caso foi julgado e ele,condenado a quatro anos de prisão
Possivelmente é o país com as regras mais severas em relação à maconha. Ser flagrado fumando ou carregando qualquer que seja a quantidade, tem pena mínima de quatro anos de prisão. Além disso, caso exista vestígios da droga no sangue ou na urina, a polícia pode acusar o usuário de “posse de drogas”. Em 2012, um homem foi preso no aeroporto por ter vestígios de 0,003 gramas de maconha na meia. O caso foi julgado e ele,condenado a quatro anos de prisão
Dodô Calixto, Opera Mundi. Com informações da Agência Efe, RT, Huffington Post, Japan Hemp, The Weed blog, Wikipedia
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FELICIANO DIZ QUE JESUS DEU UM CARRO PARA SUA FILHA
Em vídeo polêmico, Feliciano diz ter ganho carro para presentear filha
Em
um novo vídeo divulgado na internet, o deputado federal Marco
Feliciano (PSC-SP) disse que Jesus deu um carro para sua filha em um
momento de dificuldade vivido por ele e sua família. Segundo ele,
igrejas têm cancelado seus cultos por conta de “ativistas” que ameaçam a
realização dos eventos. A falta de compromissos oficiais, segundo
Feliciano, tem causado dificuldades financeiras à sua família.
“Eu
não vivo do salário de deputado. Eu tenho uma estrutura muito grande,
tenho programa de televisão, missionários que eu sustento e, nesses
últimos dois meses, eu falei: Jesus, acabou tudo”, afirmou Feliciano
durante o 31º Congresso Missões dos Gideões, que aconteceu no fim de
abril em Camboriú, Santa Catarina. O evento ocorreu um mês após ele
assumir a presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara.
Com
a voz embargada, o deputado conta para uma plateia lotada de fiéis que
teria prometido um carro à sua filha Karen em comemoração ao seu
aniversário de 18 anos, mas teve que usar o dinheiro para pagar
contas.
E
que, em um congresso evangélico em Porto Seguro, na Bahia, um fiel
teria recebido uma mensagem de Deus para que voltasse a pé para casa e
desse o carro de sua esposa para a filha do pastor.
“Não
é o carro que ela quer, mas é um começo. Chega a segunda-feira, amanhã
(o carro) está lá em casa às duas horas da tarde”, conta Marco
Feliciano, aplaudido pela plateia.
Patrimônio
A
aparente dificuldade financeira relatada pelo pastor Marco Feliciano à
plateia evangélica não bate com a realidade de seu patrimônio.
Na
prestação de contas enviada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em
2010, quando foi eleito deputado federal com 211.855 votos, Feliciano
declarou possuir R$ 634.800 em bens. Na conta, entram quatro carros que
somados valem R$ 255 mil.
Dentre
eles, um modelo de luxo BMW X5, ano 2002, avaliado em R$ 95 mil. Além
dele, Feliciano declarou possuir um Vectra GLS 1999, cujo valor
estimado era de R$ 20 mil, um outro Vectra modelo Sedan Elite 2006, de
R$ 70 mil, além de um Kia Sorrento EX, ano 2004, de R$ 70 mil. O
deputado afirmou ainda possuir uma moto Honda 1998, avaliada em R$ 30
mil.
Confira o vídeo
Lucas Pavanelli, O Tempo
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NÃO PENSO, LOGO RELINCHO
Não penso, logo relincho. Um glossário com os 15 principais clichês repetidos pelas redes sociais para justificar, no discurso, um mundo de violência e exclusão
Matheus Pichonelli, CartaCapital
Dizem que uma mentira repetida à exaustão se transforma em verdade.
Pura mentira. Uma mentira repetida à exaustão é só uma mentira, que
descamba para o clichê, que descamba para o discurso.
E o discurso,
quando mal calibrado, é o terreno para legitimar ofensas, preconceitos,
perseguições e exclusões ao longo da História. Nem sempre é resultado da
má-fé. Por estranho que pareça, é na maioria das vezes fruto da
indigência mental – uma indigência mental que assola as escolas, a
imprensa, as tribunas, as mesas de bares, as redes sociais.
Com os anos,
a liberdade dos leitores para se manifestar sobre qualquer assunto e o
exercício de moderação de comentários nos levam a reconhecer um clichê
pelo cheiro.
Listamos alguns deles abaixo com um apelo humanitário: ao
replicar, você não está sendo original; está apenas repetindo uma
fórmula pronta sem precisar pensar sobre tema algum. E um clichê
repetido à exaustão, vale lembrar, não é debate. É apenas relincho*.
“Negros têm preconceitos contra eles mesmos”
Tentativa clássica de terceirizar o próprio racismo, é a frase mais
falada das redes sociais durante o Dia da Consciência Negra. É propagada
justamente por quem mais precisa colocar a mão na consciência em datas
como esta: pessoas que nunca tomaram enquadro na rua nem foram
preteridas em entrevistas de emprego sem motivos aparentes.
O discurso é
recorrente na boca de quem jamais se questionou por que a maioria da
população brasileira não circula em ambientes frequentados pela elite
financeira e intelectual do País, como universidades, centros culturais,
restaurantes, shows e centros de compra. Tem a sua variação homofóbica
aplicada durante a Parada Gay. O sujeito tende a imaginar que Dia Branco
e Dia Hétero são equivalentes porque ignora os processos históricos de
dominação e exclusão de seu próprio país.
“Não precisamos de consciência preta, parda ou branca. Precisamos de consciência humana”
Eis uma verdade fatiada que deixa algumas perguntas no contrapé: o
manifestante a exigir direitos iguais não é gente? O que mais se busca,
nessas datas, se não a consciência humana? Ou ela seria necessária, com
ou sem feriado, caso a cor da pele (ou o gênero ou a sexualidade) não
fosse, ainda hoje, fatores de exclusão e agressão? (leia mais aqui sobre Consciência Humana)
“Héteros morrem mais do que homossexuais. Portanto, somos mais vulneráveis”
É o mesmo que medir o volume de um açude com uma
régua escolar. Crimes como homicídio, latrocínio, roubo ou furto têm
causas diversas: rouba-se ou mata-se por uma carteira, por ciúmes, por
fome, por motivo fútil, por futebol, mas não necessariamente por causa
da orientação sexual da vítima.
O argumento é utilizado por quem nunca
se perguntou por que ninguém acorda em um belo dia e decide estourar uma
barra de ferro na cabeça de alguém só porque este alguém gosta e anda
de mãos dadas com alguém do sexo oposto. O crime motivado por ódio
contra heterossexuais é tão plausível quanto ser engolido por uma
jaguatirica em plena Avenida Paulista.
“Estamos criando uma ditadura gay (ou racial) no Brasil. O que essas pessoas querem é privilégio”
Frase utilizada por quem jamais imaginou a seguinte cena: o sujeito
acorda, vê na tevê sempre os mesmos apresentadores, sempre as mesmas
pautas, sempre as mesmas gracinhas. No caminho do trabalho, ouve ofensas
de pedestres, motoristas e para constantemente em uma mesma blitz que
em tese serviria para todos. Mostra documento, RG. Ouve risada às suas
costas.
Precisa o tempo todo provar que trabalha e paga imposto (além, é
claro, de trabalhar e pagar imposto). Chega ao trabalho e é recebido
com deferência: “oi boneca”; “oi negão”; “veio sem camisa hoje?”.
Quando
joga futebol, vê a torcida imitando um macaco, jogando bananas ao
campo, ou imitando gazelas. E engasga toda vez que vira as costas e se
descobre alvo de algum comentário. Um dia diz: “apenas parem”. E ouve
como resposta que ele tem preconceito contra a própria condição ou está
em busca de privilégio. Resultado: precisamos de um novo glossário sobre
privilégios.
“A mulher deve se dar o valor”
Repetida tanto por homens como por mulheres, é a
confissão do recalque, em um caso, e da incompetência, no outro: o homem
recorre ao mantra para terceirizar a culpa de não controlar seus
próprios instintos; a mulher, por pura assimilação dos mandamentos do
pai, do marido e dos irmãos.
Nos dois casos o interlocutor acredita que,
ao não se dar o valor, a menina assume por sua conta e risco toda e
qualquer violência contra sua pretensão. Para se vestir como quer, andar
como quer, dizer e fazer o que quer com quem bem quiser, ouvirá, na
melhor das hipóteses, que não é a moça certa para casar; na pior, que
foi ela quem provocou a agressão.
“Os homens também precisam ser protegidos da violência feminina”
Na Lua, é possível que a violência entre gêneros seja equivalente. Na
Terra, ainda está para aparecer o homem que apanhou em casa porque foi
chamado de gostoso na rua, levou mão na bunda, ouviu assobios ou ruídos
com a língua sem pedir a opinião da mulher.
Também não há relevância
estatística para os homens que tiveram os corpos rasgados e invadidos
por grupos de mulheres que dominam as delegacias do País e minimizam os
crimes ao perguntar: “Quem mandou tirar a camisa?”.
“Se ela se deixou ser filmada, é porque quis se exibir”.
Verdade. Mas não leva em conta um detalhe: existe alguém do outro
lado da tela, ou da câmera. Este alguém tem um colchão de conforto a seu
favor. Se um dia o vídeo vazar, será carregado nos braços como comedor.
Ela, enquanto isso, vai ser sempre a exibida. A puta. A idiota que
deixou ser flagrada. A vergonha da família. A piada na escola. Parece
uma relação bastante equilibrada, não?
“O humor politicamente correto é sacal”
É a mais pura verdade em um mundo no qual o
politicamente incorreto serve para manter as posições originais: ricos
rindo de pobres, paulistas ridicularizando nordestinos, brancos ricos
fazendo troça de mulatos pobres, machões buscando graça na
vulnerabilidade de gays e mulheres.
As provocações são brincadeiras
saudáveis à medida que a plateia não se identifica com elas: a graça de
uma piada sobre português é proporcional à distância do primeiro
português daquele salão. Via de regra, a frase é usada por quem jura se
ofender quando chamado de girafa branca tanto quanto um negro ao ser
chamado de macaco. Só não vale perguntar se o interlocutor já foi
chamado de “elemento suspeito”, com tapas e humilhações, pelo simples
fato de ser alto como o artiodátilo.
“Bolsa Família incentiva a vagabundagem. Pegar na enxada e trabalhar ninguém quer”
Há duas origens para a sentença. Uma advém da bronca – manifestada,
ironicamente, por quem jamais pegou em enxada – por não se encontrar
hoje em dia uma boa empregada doméstica pelo mesmo preço e a mesma
facilidade. A outra origem é da turma do “pegar o jornal e ler além do
horóscopo ninguém quer”; se quisesse, o autor da frase saberia que o
Bolsa Empreiteiro (que também dispensa a enxada) consome muito mais o
orçamento público do que programa de transferência de renda.
Ou que a
maioria dos beneficiários de Bolsa Família não só trabalha como é
obrigada a vacinar os filhos, manter a regularidade na escola e
atravessar as portas de saída do programa. Mas a ojeriza sobre números e
fatos é a mesma que consagrou a enxada como símbolo do nojo ao
trabalho.
“Na ditadura as coisas funcionavam”
Frase geralmente acolhida por pacientes com síndrome de Estocolmo.
Entre 1964 e 1985, a economia nacional crescia para poucos, às custas de
endividamento externo e da subserviência a Washington; universalização
do ensino e da saúde era piada pronta, ninguém podia escolher os seus
representantes, a imprensa não podia criticar os generais e a sensação
de segurança e honestidade era construída à base da omissão porque
ninguém investigava ninguém.
Em todo caso, qualquer desvio identificado
era prontamente ofuscado com receitas de bolo na primeira página (os
bolos eram de fato melhores).
“Você defende direito de presos porque ele não agrediu ninguém da sua família”.
É o sofisma usado geralmente contra quem defende o uso das leis para
que a lei seja garantida. Para o sujeito, aplicação de penas e
encarceramentos são privilégios bancados às custas dele, o contribuinte.
Em sua lógica, o Estado só seria efetivo se garantisse a sua segurança e
instituísse a vingança como base constitucional. Assim, a eventual
agressão contra um integrante de uma família seria compensada com a
agressão a um integrante da família do acusado.
O acúmulo de
experiência, aperfeiçoamento de leis e instituições, para ele, são papo
de intelectual: bons eram os tempos dos linchamentos, dos apedrejamentos
públicos, da Lei de Talião. Falta perguntar se o defensor do
fuzilamento está disposto a dar a cara a tapa, ou a tiro, quando o filho
dirigir bêbado, atropelar, agredir e violentar a família de quem, como
ele, defende penas mais duras para crimes inafiançáveis.
“A criminalidade só vai diminuir quando tiver pena de morte no Brasil”
Frase repetida por quem admira o modelo prisional e o
corredor da morte dos EUA, o país mais rico do mundo e ao mesmo tempo o
mais violento entre as nações desenvolvidas. Lá o crime pode não
compensar (em algum lugar compensa?), mas está longe de ser varrido
junto com seus meliantes.
“Político deveria ser tratado por médico cubano”
Tradução: “não gosto de política nem de cubano”.
Pelo raciocínio, todo paciente tratado por cubanos VAI morrer e todo
político que precisa de tratamento médico DEVE morrer. Para o autor da
frase, bons eram os tempos em que, na falta de médico brasileiro,
deixava-se o paciente morrer – ou quando as leis eram criadas não pelo
Legislativo, mas pelo humor de quem governa na canetada.
“Deveriam fazer testes de medicamento em presidiários, não em animais”
Também conhecida como “não aprendemos nada com a parábola do filho
Pródigo que tantas vezes rezamos na catequese”. É citada por quem não
aceita tratamento desumano contra os bichos, mas não liga para o
tratamento desumano contra humanos. É repetida também por quem se
imagina livre de todo pecado e das grandes ironias da vida, como um
certo fiscal da prefeitura de São Paulo que um certo dia criticou o
direito ao indulto de presidiários e, no outro, estava preso acusado de
participação na máfia do ISS. É como dizem: teste de laboratório na cela
dos outros é refresco.
“Por que você não vai para Cuba?”
Também conhecida como “acabou meu estoque de argumentos. Estou andando na banguela”.
MATHEUS PICHONELLI
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JUSCELINO KUBITSCHEK FOI ASSASSINADO EM 22 DE AGOSTO DE 1976,ESTÁ É A CONCLUSÃO DA COMISSÃO DA VERDADE
Documento divulgado hoje pela Comissão da Verdade reúne elementos inéditos que desmontam versão oficial sobre morte de JK
por
Antonio Lucio)
Os membros da Comissão Municipal da Verdade de São Paulo ‘Vladimir
Herzog’ declararam hoje (10) que o ex-presidente da República Juscelino
Kubitschek foi vítima de um assassinato político, e que o acidente
automobilístico que tirou sua vida, em 22 de agosto de 1976, foi fruto
de um complô ordenado pela cúpula da ditadura que então governava o
país.
Aventada há décadas por familiares de JK e opositores do regime
militar, a declaração dos parlamentares paulistanos se baseia num estudo
conduzido ao longo de nove meses pelo grupo, sob a coordenação do
vereador Gilberto Natalini (PV), ele mesmo uma vítima da repressão, e
presidente do colegiado instalado na Câmara Municipal em maio do ano
passado.
Além dele, Juliana Cardoso (PT), Mário Covas Neto (PSDB),
Ricardo Young (PPS), José Police Neto (PSD), Laércio Benko (PHS) e
Rubens Calvo (PMDB) assinam o documento de 29 páginas, intitulado Relatório JK.
“Estamos pedindo que o Brasil declare que Juscelino morreu de morte
matada, e não de morte morrida. Não foi acidente, foi um atentado que
provocou aquele acidente que matou JK”, exige Natalini.
Para o vereador,
todos os indícios apontam que os mandantes do crime foram os generais
Golbery do Couto e Silva, então ministro-chefe da Casa Civil da
Presidência da República, e João Baptista Figueiredo, que na época
comandava o Serviço Nacional de Informações (SNI) e dois anos depois
seria nomeado como último presidente militar do país.
O vereador lembra que a morte de JK inaugurou um período de 272 dias
em que também morreram o ex-presidente João Goulart, em 6 de dezembro de
1976, e o ex-governador da Guanabara, Carlos Lacerda, em 21 de maio de
1977.
Os três políticos perderam a vida em circunstâncias controversas.
Na mesma época, outros líderes latino-americanos, opositores dos regimes
militares que tomaram o continente, também morreram em condições
misteriosas – ou foram escandalosamente assassinados.
“JK partia para uma candidatura”, lembra Natalini. “Isso, somado às
questões do Cone Sul, mostra que houve uma articulação e que Juscelino
era um dos adversários políticos a serem eliminados.”
O Relatório JK
recorda trechos de uma correspondência trocada entre João Baptista
Figueiredo e o chefe da polícia secreta chilena, Manuel Contreras
Sepúlveda, mostrando que os serviços de inteligência estavam preocupados
com o surgimento de alternativas democráticas aos regimes militares na
região.
Versões
Juscelino Kubitschek perdeu a vida após o veículo em que se
encontrava, um Opala, fabricado pela Chevrolet, colidir frontalmente com
um caminhão Scania-Vabis. O acidente ocorreu na Rodovia Presidente
Dutra, na altura do km 168, atual km 331, no município de Resende (RJ).
Conduzido pelo motorista Geraldo Ribeiro, que trabalhava com JK havia 36
anos, o carro do ex-presidente tinha saído de São Paulo com destino ao
Rio de Janeiro.
A versão oficial atesta que o motorista de JK perdeu o controle do
Opala após ter sido abalroado por um ônibus da Viação Cometa, que seguia
na mesma direção. O toque entre os veículos teria feito com que
Ribeiro, de 64 anos, não conseguisse fazer a curva à direita que
surgiria logo à frente. O carro, então, passou para a pista contrária,
batendo de frente com o caminhão. Tanto JK como seu motorista morreram
instantaneamente.
Com 90 pontos, o Relatório JK se dedica a desmontar essa versão,
defendendo a tese de que o acidente não foi provocado pela imperícia de
Geraldo Ribeiro ou pelo choque de um ônibus no Opala que conduzia o
ex-presidente. De acordo com Gilberto Natalini e os demais vereadores
que assinam o documento, o motorista de JK recebeu um tiro na cabeça
momentos antes de fazer a curva. Por isso é que, desfalecido, perdeu o
controle do carro, passou para a pista contrária e colidiu com o Scania.
Novidades
A Comissão Municipal da Verdade não consegue provar de maneira cabal
essa versão. Seus membros, porém, obtiveram pela primeira vez alguns
fatos e testemunhos importantes para contestar a história oficial. A
informação nova foi somada a indícios, evidências, documentos e
contradições que já eram conhecidos da opinião pública graças ao
trabalho de jornalistas que haviam se dedicado à investigação da morte
de JK. Alguns livros sobre o assunto também são citados.
“Tivemos algumas coisas que não eram conhecidas, que nós trouxemos, e
reunimos provas que estavam soltas por aí, jogadas, divididas e
diminuídas. Fomos juntando ponta por ponta e produzimos o relatório”,
explica o parlamentar do PV. Natalini cita como exemplos de suas
“descobertas” o extravio de laudos periciais que atestam a presença de
“fragmentos metálicos” dentro do crânio do motorista de JK. Os restos
mortais de Geraldo Ribeiro foram exumados em 1996. “Ninguém sabia desse
sumiço.”
“O depoimento do motorista da carreta (que vinha atrás do Scania que
colidiu com o Opala) também não era conhecido de ninguém. Fomos buscar
lá em Santa Catarina. Passamos o dia com ele e ele contou”, continua
Natalini, fazendo referência ao motorista de caminhão aposentado Ademar
Jahn, que prestou três depoimentos à Comissão Municipal da Verdade no
último mês de novembro, em Joinville (SC). Jahn conduzia um caminhão
pela Rodovia Presidente Dutra no momento do acidente, e afirma ter visto
o Opala de JK passando para o outro lado da pista.
De acordo com o Relatório JK, nos instantes que antecederam a batida,
o motorista catarinense viu Geraldo Ribeiro debruçado, com a cabeça
caída entre o volante e a porta do automóvel, “não restando dúvida de
que o condutor se encontrava desacordado e inconsciente, e já não
controlava o veículo, antes do impacto com o caminhão.”
Para Natalini, o
testemunho, inédito, ao lado dos indícios periciais de que o motorista
de JK recebeu um tiro na cabeça, é um dos principais elementos a
sustentar a tese dos vereadores paulistas.
“Vamos oficiar a presidenta da República, o presidente do Congresso, o
presidente do Supremo Tribunal Federal e o coordenador da Comissão
Nacional da Verdade, pedindo que o Brasil reconheça que JK foi
assassinado, e que não houve morte acidental”, anuncia Natalini, que
espera agora ações concretas das autoridades brasileiras.
“Elas têm o
poder de fato, legal, de reescrever a história. Espero que entendam que
foi trabalho sério, dedicado e sereno. Vamos mandar pra eles uma
quantidade enorme de provas, porque tudo o que está escrito aqui tem
provas.”
Tadeu Breda, RBA
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