terça-feira, 31 de dezembro de 2013

GLEISI:'' SE O GOVERNO DO PR TIVESSE PROJETOS, PODERÍAMOS TER FEITO MAIS''



O jornal Gazeta do Povo publicou nesta segunda-feira (30) uma entrevista com a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. Confira na íntegra:

Gleisi: "Se o governo do PR tivesse projetos, poderíamos ter feito mais"

De saída da Casa Civil em janeiro, a ministra Gleisi Hoffmann começa a moldar o discurso para a disputa do governo do Paraná, em 2014. Mesmo sem oficializar a candidatura, a petista faz uma série de críticas à gestão Beto Richa (PSDB) e questiona as declarações de que a administração federal prejudica o estado. Para ela, o crescimento paranaense nos últimos anos se deve à política econômica dos governos Lula e Dilma Rousseff.

"Talvez pudéssemos fazer mais, se nós não tivéssemos um vazio, um deserto de projetos e propostas no governo do Paraná", afirmou, em entrevista concedida no Palácio do Planalto, semana passada. Dura na avaliação do provável adversário eleitoral no próximo ano, Gleisi se emocionou ao falar dos episódios mais marcantes na passagem pelo ministério. A ministra chorou ao lembrar de uma visita que fez a uma unidade de saúde no Tatuquara, em Curitiba, para verificar o andamento do programa Mais Médicos.

Direto ao ponto: já dá para chamar a sra. de candidata ao governo do Paraná?

As eleições cabem a 2014. Portanto, é quando elas serão discutidas e as definições serão tomadas. Eu tenho várias manifestações favoráveis a eu ser candidata ao governo do Paraná, de lideranças no estado, de prefeitos, de partidos aliados. Mas essa é uma discussão que ainda vamos fazer no início do próximo ano.

Ainda existe alguma possibilidade de não ser candidata e permanecer no ministério?

A possibilidade maior é de eu sair do governo em janeiro. Isso não quer dizer necessariamente que eu saio para ser candidata. A avaliação sobre eu ser candidata ou não será feita no início do ano, com a participação de várias pessoas e partidos que participam da política paranaense.

Então janeiro é mesmo a data-limite para a saída da Casa Civil?

Sim, a presidenta pretende anunciar as mudanças ministeriais a partir de janeiro.

Sem citá-la como candidata, qual é o desafio do PT na próxima eleição paranaense?

Apresentar uma proposta de estado que seja factível, em termos de gestão do estado, de administração, e que isso tenha como objetivo a sustentação de um crescimento e de um desenvolvimento harmonioso do Paraná e de todas as suas regiões. O Paraná é um estado rico, de gente trabalhadora, com grande potencial. Infelizmente, o atual governo do estado não tem dado os estímulos necessários nem tem feito as concertações necessárias para ampliar esse potencial de desenvolvimento.

E quais seriam essas concertações?

Uma grande colaboração que o governo do estado poderia dar, em primeiro lugar, é pagar em dia seus fornecedores. Em segundo lugar, deveria estimular principalmente a micro e pequena empresa e rever sua política de substituição tributária. Em terceiro, enfrentar de vez a questão dos pedágios distorcidos e que tanto contribui para onerar a nossa produção.

A justificativa do governo do estado para a questão do pagamento dos fornecedores passa pelo atraso na liberação de empréstimos que dependem do aval da União, o que sempre foi tratado como uma questão política e até de perseguição do governo federal. Qual é a sua visão sobre isso?

Eu lamento que se tente justificar a incapacidade e a incompetência administrativa do governo estadual e do chefe do Executivo colocando a culpa em outras situações e outras pessoas. Os empréstimos do Paraná só não saíram porque o estado estava com pendências no Cadastro Único de Convênios da União e não respeitava a Lei de Responsabilidade Fiscal, já demonstrando uma desgovernança.

Mas sempre ficou clara que essa era uma questão técnica? A sra. sabia dessas dificuldades ou ficou tudo restrito ao Tesouro Nacional?

Tudo que dependia de nós para encaminhar os empréstimos foi feito. Inclusive esses processos, quando passaram pela Casa Civil, passaram de maneira muito rápida. Não ficou sequer um dia aqui antes de ser despachado. As discussões sobre os empréstimos foram técnicas. Faltou na realidade gestão financeira e administrativa para o estado. 
 
O governo da presidenta Dilma tem se pautado por ter uma administração republicana. Todos os estados brasileiros são contemplados com recursos, programas, com os projetos que o governo federal coloca à disposição da sociedade brasileira. Fizemos um grande esforço para que o Paraná pudesse ser contemplado na maioria desses programas.
 
E o estado foi contemplado com investimentos em rodovias, nas BRs-153, 163 a 487, que são trechos com infraestrutura finalizada. Vamos fazer a licitação da BR-163, de Cascavel a Marmelândia. Finalizamos o contorno oeste de Cascavel. Em janeiro vamos entregar o contorno de Maringá. Estamos fazendo um grande investimento em mobilidade urbana em Curitiba. 
 
Temos grandes investimentos para o porto de Paranaguá, para os nossos aeroportos, em São José dos Pinhais, no Bacacheri, em Foz do Iguaçu, em Londrina. O programa Minha Casa, Minha Vida tem um dos maiores investimentos no Paraná. 
 
Há entregas de máquinas e equipamentos, reformas de unidades básicas de saúde de unidades de pronto atendimento. Colocamos duas universidades no estado. Ou seja, o governo federal tem feito grandes investimentos no Paraná.

Mas há muita reclamação sobre o volume de repasses e de investimentos diretos em relação a outros estados.

Injustamente. Talvez pudéssemos fazer mais, se nós não tivéssemos um vazio, um deserto de projetos e propostas no governo do Paraná.

Então o problema é esse, a falta de projetos?

Com certeza. Há uma baixa iniciativa do governo do estado em relação à captação de recursos federais e de ampliação de programas e projetos.

Até agora a campanha pelo governo do estado vem sendo travada nessa esfera, numa discussão sobre uma possível discriminação que o governo do estado promove contra o Paraná. Isso vai entrar no debate eleitoral para valer, no ano que vem?

É difícil fazer uma avaliação de futuro. Eu espero que seja uma campanha que, quem quer que sejam os candidatos que participem, possa se pautar por um debate propositivo para o nosso estado. O Paraná é um estado muito pujante. Se tiver boas iniciativas e uma boa coordenação de governo, é um estado que pode despontar ainda mais no cenário nacional e internacional.

A sra. recebe muitos pedidos e cobranças para ajudar de alguma forma o Paraná, apesar de a Casa Civil precisar se preocupar com os estados como um todo. Isso atrapalhou a sua gestão de alguma forma, foi algum tipo de incômodo?

De maneira alguma. Recebo a todos aqui com muita boa vontade e com disposição de auxiliar, sejam paranaenses ou sejam representantes de outros estados. Penso que temos que dar respostas aos problemas diversos das unidades da federação. Isso tem a ver com o desenvolvimento do Brasil. 
 
O Paraná é um estado que tem crescido muito. Hoje mesmo [dia 19 de dezembro] vi uma matéria na Gazeta do Povo mostrando que o Paraná teve o maior crescimento econômico entre os estados. Até achei interessante a avaliação de alguns representantes do governo do estado, que no meu entender chegam a ser despropositadas, de que o Paraná cresce apesar da União, apesar de o governo federal estar atrapalhando.
 
 Eu diria que o Paraná só está crescendo no ritmo que está crescendo graças à política econômica feita pelo governo federal. Quem faz política econômica não é o governo do estado. Se a agricultura teve esse desenvolvimento, é porque fizemos investimentos fundamentais. Hoje nós financiamos a agricultura brasileira com juros subsidiados, de no máximo 5,5% ao ano. Nós temos um programa de investimentos em máquinas e equipamentos com juro de 3,5% ao ano. 
 
E colocamos agora, no Plano Safra 2013/2014, um programa de financiamento de armazenagem também com juro de 3,5% ao ano, três anos de carência e 15 anos para pagar. 
 
O Paraná é o estado que tem mais projetos em análise na área de agricultura no Banco do Brasil e que mais liberou recursos até agora. Essa pujança da agricultura, que é um dos fatores que levantam a economia paranaense, tem a ver com uma política de estímulo a crédito e investimentos na agricultura. Se nós formos olhar Mato Grosso, com certeza vai ter o mesmo desempenho. O emprego está bom no Paraná porque está bom no Brasil. 
 
Nós temos a menor taxa de desemprego nacional da nossa história. É óbvio que tudo isso tem reflexo no Paraná e se deve a uma política de defesa da produção nacional e, principalmente, da indústria. Não podemos esquecer que o Paraná recebeu três grandes empresas na área de indústria automobilística, a Audi, a Volkswagem e a DAF Caminhões, graças ao estímulo da desoneração de 30% no Imposto sobre Produtos Industrializados. Aqui não tem estímulo do governo do estado. Portanto, a política de proteção de emprego tem a ver com medidas nacionais e não locais.

Então a sra. vê que o crescimento do Paraná não ocorre "apesar" do governo federal, mas "por causa" do governo federal, é isso?

É por conta das políticas que estamos desenvolvendo de proteção do nosso emprego, da nossa renda, da nossa indústria e da produção agrícola. Eu poderia dizer que, a despeito do que o governo do Paraná está fazendo, nós crescemos. Porque nós temos no Paraná um pedágio caro, nós temos fornecedores sem receber e tivemos agora uma política de substituição tributária que praticamente afoga nossas pequenas e micro empresas.

Tirando a polêmica sobre os empréstimos, como a sra. avalia a questão das dificuldades nas contas do estado?

Com muita preocupação. Eu trabalhei no governo do Mato Grosso do Sul, fui secretária de estado lá. A economia deles é binária, baseada na produção de soja e boi. É um estado pouco industrializado e que, portanto, arrecada pouco. Mesmo assim nós conseguimos deixar em ordem as finanças, pagar as contas e estimular o desenvolvimento. 
 
A economia paranaense é diferente, é diversificada. Tem agricultura, grande, média e familiar, tem indústria, comércio desenvolvido, um bom setor de serviços. Mesmo assim, o governo do estado não consegue captar essa pujança para que a gestão possa ser melhorada. Me preocupa muito. Mostra a falta de zelo, a incompetência, a incapacidade administrativa do governo.

Como a sra. gostaria que sua passagem pela Casa Civil fosse lembrada?

A minha intenção desde o início foi de ter uma atuação discreta, de auxiliar a presidenta na estruturação e no monitoramento dos programas. Foi uma gestão voltada para dentro do governo, que também foi o justamente o que a presidenta me solicitou à época. Portanto, eu espero que a minha colaboração nesse sentido tenha sido efetivada. A melhor forma de eu ser lembrada é como eu me propus a trabalhar aqui: de uma maneira discreta.

A Casa Civil tinha antes um perfil mais político e quando a sra. entrou só falou em gestão.

O foco foi esse. Para isso que eu me organizei junto com a equipe. Hoje a presidenta tem a condição de fazer entregas em quase todas as áreas em que ela se focou. Nós temos um monitoramento dos programas, sabemos os seus resultados, os problemas que ainda existem e o que eles estão trazendo de benefícios à população brasileira.

A presidente Dilma é sempre citada como "mãe" do PAC. A senhora se sente um pouco "mãe" do pacote de concessões do governo federal, o Programa de Investimentos em Logística (PIL)?

De maneira alguma. O projeto de concessões reuniu muitas áreas no governo. Coube à Casa Civil coordenar o trabalho nessas áreas, mas ele é resultado de um esforço muito grande, dos ministérios dos Transportes, da Fazenda, da Secretaria de Portos, da Secretaria de Aviação Civil. Muitas áreas gastaram muita energia com ele.

Mas foi o programa que deu mais trabalho?

Eu diria que foi o mais desafiador, pelo tamanho, pelo volume de recursos que estão sendo mobilizados e por ter vários modais sendo colocados ao mesmo tempo para serem concedidos. Orquestrar esse conjunto de órgãos federais, de fiscalização, de regulação e de mercado foi um grande desafio.

As concessões são um sinal de que o PT e o governo reviram o seu conceito de relacionamento com o setor privado?

Nós já tínhamos uma experiência no PAC, que também teve uma série de estímulos a parcerias público-privadas. A área de energia há muito tempo recebe investimentos por meio de concessões. O Estado brasileiro já tinha esse costume e continuou com essa proposta. 
 
Nós agora aprofundamos. Foi muito motivado porque precisávamos mobilizar um valor maior de recursos e, principalmente, recursos vindos da iniciativa privada para investimento. E também utilizar mais a capacidade gerencial da iniciativa privada em desenvolver projetos. Esses foram os dois grandes motivadores para que nós pudéssemos ampliar as parcerias nas obras de infraestrutura.

A sra. está saindo da Casa Civil bem no momento em que as concessões começam a sair do papel, com a definição de vários leilões de rodovias e aeroportos.

Ainda bem que estão se realizando. Para chegar nesse momento de realização e resultados, muitos esforços foram feitos. Nós trabalhamos nesse processo de concessão desde o final de 2011 e início de 2012, quando nós começamos a analisar e a integrar o Plano Nacional de Logística de Transporte com o Plano Nacional de Logística Portuária.

O balanço é satisfatório?

É. A iniciativa privada atendeu o chamado do governo e o modelo das concessões de aeroportos e rodovias mostraram-se modelos de sucesso. Conseguimos fazer as concessões, termos uma baixa tarifa, que era nossa preocupação maior, e termos investidores com vontade de investir, com retorno daquilo que colocaram.

Os índios chegaram a fazer um enterro simbólico da sra. na frente do Congresso. Alguma coisa mudou na interpretação da sra. sobre demarcação de áreas indígenas?

Este é um país que tem lugar para todos, para índios e para não índios. Nós já temos demarcados 120 milhões de hectares de terras indígenas. Isso era um débito que o Estado brasileiro tinha com essa população. O que nós precisamos agora é ter equilíbrio com essas demarcações. Nós não podemos hoje desalojar um pequeno agricultor ou uma comunidade quilombola para fazermos uma demarcação. Nós temos que chegar a uma mediação.
 
 Todos têm direito a se estabelecer no território nacional. Portanto, o direito de um não pode tirar o direito de outro. Estamos falando de pessoas que estão cultivando a terra há mais de 80, 100 anos. Nós precisamos mediar e isso não se faz só por demarcação. Talvez tenhamos que partir para uma outra situação, que sejam assentamentos, compra de terra, indenizações, tudo isso tem que ser estudado. 
 
Agora, para não termos injustiça, em qualquer processo fundiário, temos de ouvir todos os atores envolvidos - a Fundação Nacional do Índio, os representantes dos índios, o Ministério do Desenvolvimento Agrário, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, o Ministério da Agricultura, a Secretaria de Direitos Humanos. Quando todos podem acompanhar e opinar sobre um processo, com certeza ele vai ser mais justo e mais equilibrado no final.

Que balanço a sra. faz do episódio envolvendo o ex-assessor da Casa Civil Eduardo Gaievski (o ex-assessor foi preso em agosto por suspeita de estupro de menores e favorecimento de prostituição)? Ficou alguma lição?

Foi um episódio muito triste. Lamentei muito pelo que aconteceu. Eu espero sinceramente que as coisas sejam devidamente esclarecidas e apuradas e as responsabilidades punidas.

A sra. teme que esse caso seja utilizado durante a campanha para atingi-la?

Isso já foi bastante utilizado, inclusive por perfis falsos nas redes sociais. Perfis até feitos e estimulados por servidores do governo do estado, o que eu lamento muito. Mas acho que a população sabe separar bem isso.

Como foi o cotidiano do relacionamento com a presidente?

Muito bom. Aprendi muito com a presidenta. Ela é uma pessoa firme, determinada, que faz cobrança por resultado. É uma grande gestora. Acho um privilégio para o nosso país ter uma mulher como ela na sua direção. Hoje temos programas com resultados grandes para a população brasileira. Temos certeza que estamos qualificando cada vez mais a máquina pública, a gestão pública, e a presidenta tem uma grande responsabilidade nisso.

A presidente tem uma imagem para a população de alguém durona, que cobra muito. No dia a dia ela é assim mesmo?

Ela cobra muito e tem que cobrar. Mas existe um mito sobre o comportamento da presidenta. Penso que isso é estimulado porque na administração pública as pessoas não estão acostumadas à cobrança de resultados. E nós temos que nos acostumar. Nós estamos fazendo gestão para o povo brasileiro, com dinheiro do povo brasileiro. Nós temos que dar resultado.

O que mudou na Gleisi que chegou ao governo em 2011 para a Gleisi de hoje?


Aprendi muito aqui. A conhecer o Brasil, os desafios, as necessidades, as diferenças que esse país tem em termos regionais, a importância das políticas públicas para o desenvolvimento e o equilíbrio do país. Com certeza eu saio outra pessoa. Com uma visão de maior responsabilidade em relação à gestão pública.

Teve algum episódio que possa ser considerado como mais marcante nessa passagem pela Casa Civil?

Todos os lançamentos de programa, de projetos, foram muito positivos. E principalmente quando a gente monitora os resultados. 
 
Um dos programas que eu mais gostei de participar e que me deram muito prazer pelo resultado prático foi o Viver Sem Limites e o Mais Médicos. O Viver Sem Limites é voltado à pessoa com deficiência e, pela primeira vez, o Estado brasileiro mobilizou 15 órgãos para ter uma política pública efetivada para esse setor da sociedade. Era um débito que nós tínhamos. 
 
E o Mais Médicos pelo conjunto que tem para o conjunto da população. Eu fiz questão de visitar uma unidade de saúde em Curitiba, no Tatuquara, para saber como na prática estava sendo um programa que estávamos começando a discutir em 2012. 
 
Foi emocionante ver a população dizer: o médico me atende [nesse momento da entrevista, Gleisi começa a chorar]. Eu acho que isso é dar resultado às pessoas. .
 
GAZETA SANTA CÂNDIDA,
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terça-feira, 10 de dezembro de 2013

FILHA DE MANDELA FALA SOBRE ÚLTIMOS DIAS DO PAI

Filha de Nelson Mandela fala sobre os últimos dias do pai. Em entrevista à rede britânica BBC, Makaziwe disse que os últimos momentos do líder foram “maravilhosos”

Makaziwe filha nelson mandela
Makaziwe Mandela (Reprodução)
 
Uma das filhas de Nelson Mandela, morto na última quinta-feira (05/12), aos 95 anos, relembrou os últimos momentos com o pai durante uma entrevista à rede britânica BBC, concedida nesta segunda-feira (09/12).

 Makaziwe Mandela, nascida em 1954, é filha de Mandela com sua primeira mulher, Evelyn Mase. A filha do ex-presidente afirmou que os últimos momentos foram “maravilhosos” e o que o pai faleceu cercado pela família.

“Até o último momento ele teve a nós, sabe? Os filhos estavam ali, os netos estavam ali, Graça (sua esposa) estava ali, estivemos a seu ao redor todo o tempo e, inclusive no último momento, estivemos sentados com ele o tempo todo na quinta-feira”, declarou. Makaziwe afirmou que nesse dia, pela manhã, os médicos, que cuidavam de Mandela em período integral, informaram à família que não poderiam fazer mais nada pelo ex-presidente.

“Acho que essa semana, da sexta a quinta-feira, foram momentos maravilhosos, se é que se pode dizer que o processo da morte é maravilhoso. Mas Tata (Mandela) desfrutou de momentos maravilhosos, porque nós estávamos ali”, ela acrescentou. Makaziwe aproveitou a entrevista para agradecer a equipe médica que se dedicou ao tratamento do pai nos últimos meses.

Durante a entrevista, Makaziwe disse acreditar que o pai lutou não só por liberdade política, mas também por liberdade espiritual. “Ele (Mandela) fala sobre o fato de ser necessário coragem para perdoar. Perdoar é uma coisa muito difícil”, explicou. “Eu acho que ele sabia que se não perdoasse, ele seria para sempre um prisioneiro espiritual”.

Nos próximos dias, uma série de eventos devem celebrar a memória de Nelson Mandela, considerado a maior liderança contra o regime do apartheid, que segregou os negros da África do Sul.

Opera Mundi

GAZETA SANTA CÂNDIDA,
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OS DIFERENTES POSICIONAMENTOS DE SETE PAÍSES SOBRE A MACONHA


Conheça sete países e suas diferentes posições sobre a maconha. Enquanto EUA e Uruguai avançam em mudanças em relação à droga, alguns países da Ásia preveem penas severas para consumo

menina fumando maconha
A legalização da maconha avança em vários países (Reprodução)
1- Malásia. 

 Fumar maconha neste país pode causar um grande prejuízo financeiro: a multa por portar 50 gramas da substância pode chegar a US$ 6.000 dólares.  Já para quem cultiva a droga, a pena “mínima” é de prisão perpétua. Tráfico e negociação de drogas, sem qualquer apelação, é passível de pena de morte.


2- EUA. 

A maconha vem passando por um processo de transformação no país. Pela primeira vez na história, a maioria dos norte-americanos é a favor da legalização, segundo pesquisa divulgada em outubro pela agência Gallup. Quando o estudo foi feito pela primeira vez, em 1969, apenas 12% apoiavam a legalização. Hoje, são 58%. Com investimentos da iniciativa privada e participação de empresários no comércio legalizado de maconha, a economia relacionada à substância já mexe com cerca de US$ 5 bilhões no país.

A maconha é utilizada em larga escala no uso terapêutico – mas, alguns estados, como o Colorado (saiba mais aqui), investem na liberação do uso recreativo, potencializando a alta do mercado da substância. No entanto, ativistas do setor alertam para os efeitos da “privatização da droga”, argumentando que, com a maconha nas mãos da especulação empresarial, o consumo pode ser explorado de forma comercial, o que poderia aumentar significantemente o número de dependentes químicos.

3 – Japão. 

Grande parte da população do país asiático costuma atribuir “às forças do mal” o consumo de drogas. Em outros termos, aquele que consome a droga estaria sob influência de forças malignas. 

Oficialmente, a maconha – assim como outras substâncias – é condenada pelas forças policiais. Segundo ativistas da legalização, o país tem uma das políticas mais rigorosas de controle, apostando na política da “demonização da maconha”, segundo o portal Anime.pt. A lei geral de controle da maconha prevê até cinco anos de prisão para o porte da droga. Estrangeiros que forem vistos fumando, por exemplo, são extraditados imediatamente e provavelmente nunca mais voltarão ao país.

4 -Filipinas. 

Se você for flagrado fumando maconha no país, nem que seja pela primeira vez, você provavelmente será internado imediatamente em uma clínica de reabilitação. Se for pego pela segunda vez, a pena mínima prevista é de seis anos de prisão. Uma pena mais rigorosa pode levar o indivíduo a cumprir 12 anos de regime fechado.

5- Uruguai.
  Henrique Carneiro, doutor em História Social pela USP, defende o modelo uruguaio:


6- Holanda. 

 Com um trabalho pioneiro e reconhecido com um dos exemplos mais eloquentes na regulação da maconha, o país diferencia em sua legislação as drogas de efeitos mais pesados (cocaína, ecstasy, por exemplo) das de mais leves (como haxixe, maconha e sedativos). A maconha não é legalizada na Holanda, mas a Justiça descriminalizou o consumidor, regularizando a venda nos chamados “coffee shops”.

7- Emirados Árabes. 

 Possivelmente é o país com as regras mais severas em relação à maconha. Ser flagrado fumando ou carregando qualquer que seja a quantidade, tem pena mínima de quatro anos de prisão. Além disso, caso exista vestígios da droga no sangue ou na urina, a polícia pode acusar o usuário de “posse de drogas”. Em 2012, um homem foi preso no aeroporto por ter vestígios de 0,003 gramas de maconha na meia. O caso foi julgado e ele,condenado a quatro anos de prisão

Dodô Calixto, Opera Mundi. Com informações da Agência Efe, RT, Huffington Post, Japan Hemp, The Weed blog, Wikipedia


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FELICIANO DIZ QUE JESUS DEU UM CARRO PARA SUA FILHA



Em vídeo polêmico, Feliciano diz ter ganho carro para presentear filha

Em um novo vídeo divulgado na internet, o deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) disse que Jesus deu um carro para sua filha em um momento de dificuldade vivido por ele e sua família. Segundo ele, igrejas têm cancelado seus cultos por conta de “ativistas” que ameaçam a realização dos eventos. A falta de compromissos oficiais, segundo Feliciano, tem causado dificuldades financeiras à sua família.

“Eu não vivo do salário de deputado. Eu tenho uma estrutura muito grande, tenho programa de televisão, missionários que eu sustento e, nesses últimos dois meses, eu falei: Jesus, acabou tudo”, afirmou Feliciano durante o 31º Congresso Missões dos Gideões, que aconteceu no fim de abril em Camboriú, Santa Catarina. O evento ocorreu um mês após ele assumir a presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara.




Com a voz embargada, o deputado conta para uma plateia lotada de fiéis que teria prometido um carro à sua filha Karen em comemoração ao seu aniversário de 18 anos, mas teve que usar o dinheiro para pagar contas. 

E que, em um congresso evangélico em Porto Seguro, na Bahia, um fiel teria recebido uma mensagem de Deus para que voltasse a pé para casa e desse o carro de sua esposa para a filha do pastor.

“Não é o carro que ela quer, mas é um começo. Chega a segunda-feira, amanhã (o carro) está lá em casa às duas horas da tarde”, conta Marco Feliciano, aplaudido pela plateia.

Patrimônio

A aparente dificuldade financeira relatada pelo pastor Marco Feliciano à plateia evangélica não bate com a realidade de seu patrimônio.

Na prestação de contas enviada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2010, quando foi eleito deputado federal com 211.855 votos, Feliciano declarou possuir R$ 634.800 em bens. Na conta, entram quatro carros que somados valem R$ 255 mil.

Dentre eles, um modelo de luxo BMW X5, ano 2002, avaliado em R$ 95 mil. Além dele, Feliciano declarou possuir um Vectra GLS 1999, cujo valor estimado era de R$ 20 mil, um outro Vectra modelo Sedan Elite 2006, de R$ 70 mil, além de um Kia Sorrento EX, ano 2004, de R$ 70 mil. O deputado afirmou ainda possuir uma moto Honda 1998, avaliada em R$ 30 mil.

Confira o vídeo





Lucas Pavanelli, O Tempo

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NÃO PENSO, LOGO RELINCHO


Não penso, logo relincho. Um glossário com os 15 principais clichês repetidos pelas redes sociais para justificar, no discurso, um mundo de violência e exclusão

charge burro relincha
Matheus Pichonelli, CartaCapital

Dizem que uma mentira repetida à exaustão se transforma em verdade. Pura mentira. Uma mentira repetida à exaustão é só uma mentira, que descamba para o clichê, que descamba para o discurso. 

E o discurso, quando mal calibrado, é o terreno para legitimar ofensas, preconceitos, perseguições e exclusões ao longo da História. Nem sempre é resultado da má-fé. Por estranho que pareça, é na maioria das vezes fruto da indigência mental – uma indigência mental que assola as escolas, a imprensa, as tribunas, as mesas de bares, as redes sociais. 

Com os anos, a liberdade dos leitores para se manifestar sobre qualquer assunto e o exercício de moderação de comentários nos levam a reconhecer um clichê pelo cheiro. 

Listamos alguns deles abaixo com um apelo humanitário: ao replicar, você não está sendo original; está apenas repetindo uma fórmula pronta sem precisar pensar sobre tema algum. E um clichê repetido à exaustão, vale lembrar, não é debate. É apenas relincho*.

“Negros têm preconceitos contra eles mesmos”

Tentativa clássica de terceirizar o próprio racismo, é a frase mais falada das redes sociais durante o Dia da Consciência Negra. É propagada justamente por quem mais precisa colocar a mão na consciência em datas como esta: pessoas que nunca tomaram enquadro na rua nem foram preteridas em entrevistas de emprego sem motivos aparentes.

 O discurso é recorrente na boca de quem jamais se questionou por que a maioria da população brasileira não circula em ambientes frequentados pela elite financeira e intelectual do País, como universidades, centros culturais, restaurantes, shows e centros de compra. Tem a sua variação homofóbica aplicada durante a Parada Gay. O sujeito tende a imaginar que Dia Branco e Dia Hétero são equivalentes porque ignora os processos históricos de dominação e exclusão de seu próprio país.


“Não precisamos de consciência preta, parda ou branca. Precisamos de consciência humana”

Eis uma verdade fatiada que deixa algumas perguntas no contrapé: o manifestante a exigir direitos iguais não é gente? O que mais se busca, nessas datas, se não a consciência humana? Ou ela seria necessária, com ou sem feriado, caso a cor da pele (ou o gênero ou a sexualidade) não fosse, ainda hoje, fatores de exclusão e agressão? (leia mais aqui sobre Consciência Humana)

“Héteros morrem mais do que homossexuais. Portanto, somos mais vulneráveis”

É o mesmo que medir o volume de um açude com uma régua escolar. Crimes como homicídio, latrocínio, roubo ou furto têm causas diversas: rouba-se ou mata-se por uma carteira, por ciúmes, por fome, por motivo fútil, por futebol, mas não necessariamente por causa da orientação sexual da vítima. 

O argumento é utilizado por quem nunca se perguntou por que ninguém acorda em um belo dia e decide estourar uma barra de ferro na cabeça de alguém só porque este alguém gosta e anda de mãos dadas com alguém do sexo oposto. O crime motivado por ódio contra heterossexuais é tão plausível quanto ser engolido por uma jaguatirica em plena Avenida Paulista.

“Estamos criando uma ditadura gay (ou racial) no Brasil. O que essas pessoas querem é privilégio”

Frase utilizada por quem jamais imaginou a seguinte cena: o sujeito acorda, vê na tevê sempre os mesmos apresentadores, sempre as mesmas pautas, sempre as mesmas gracinhas. No caminho do trabalho, ouve ofensas de pedestres, motoristas e para constantemente em uma mesma blitz que em tese serviria para todos. Mostra documento, RG. Ouve risada às suas costas.

 Precisa o tempo todo provar que trabalha e paga imposto (além, é claro, de trabalhar e pagar imposto). Chega ao trabalho e é recebido com deferência: “oi boneca”; “oi negão”; “veio sem camisa hoje?”.

 Quando joga futebol, vê a torcida imitando um macaco, jogando bananas ao campo, ou imitando gazelas. E engasga toda vez que vira as costas e se descobre alvo de algum comentário. Um dia diz: “apenas parem”. E ouve como resposta que ele tem preconceito contra a própria condição ou está em busca de privilégio. Resultado: precisamos de um novo glossário sobre privilégios.

“A mulher deve se dar o valor”

Repetida tanto por homens como por mulheres, é a confissão do recalque, em um caso, e da incompetência, no outro: o homem recorre ao mantra para terceirizar a culpa de não controlar seus próprios instintos; a mulher, por pura assimilação dos mandamentos do pai, do marido e dos irmãos. 

Nos dois casos o interlocutor acredita que, ao não se dar o valor, a menina assume por sua conta e risco toda e qualquer violência contra sua pretensão. Para se vestir como quer, andar como quer, dizer e fazer o que quer com quem bem quiser, ouvirá, na melhor das hipóteses, que não é a moça certa para casar; na pior, que foi ela quem provocou a agressão.

“Os homens também precisam ser protegidos da violência feminina”

Na Lua, é possível que a violência entre gêneros seja equivalente. Na Terra, ainda está para aparecer o homem que apanhou em casa porque foi chamado de gostoso na rua, levou mão na bunda, ouviu assobios ou ruídos com a língua sem pedir a opinião da mulher. 

Também não há relevância estatística para os homens que tiveram os corpos rasgados e invadidos por grupos de mulheres que dominam as delegacias do País e minimizam os crimes ao perguntar: “Quem mandou tirar a camisa?”.

“Se ela se deixou ser filmada, é porque quis se exibir”.

Verdade. Mas não leva em conta um detalhe: existe alguém do outro lado da tela, ou da câmera. Este alguém tem um colchão de conforto a seu favor. Se um dia o vídeo vazar, será carregado nos braços como comedor. Ela, enquanto isso, vai ser sempre a exibida. A puta. A idiota que deixou ser flagrada. A vergonha da família. A piada na escola. Parece uma relação bastante equilibrada, não?

“O humor politicamente correto é sacal”

É a mais pura verdade em um mundo no qual o politicamente incorreto serve para manter as posições originais: ricos rindo de pobres, paulistas ridicularizando nordestinos, brancos ricos fazendo troça de mulatos pobres, machões buscando graça na vulnerabilidade de gays e mulheres. 

As provocações são brincadeiras saudáveis à medida que a plateia não se identifica com elas: a graça de uma piada sobre português é proporcional à distância do primeiro português daquele salão. Via de regra, a frase é usada por quem jura se ofender quando chamado de girafa branca tanto quanto um negro ao ser chamado de macaco. Só não vale perguntar se o interlocutor já foi chamado de “elemento suspeito”, com tapas e humilhações, pelo simples fato de ser alto como o artiodátilo.

“Bolsa Família incentiva a vagabundagem. Pegar na enxada e trabalhar ninguém quer”

Há duas origens para a sentença. Uma advém da bronca – manifestada, ironicamente, por quem jamais pegou em enxada – por não se encontrar hoje em dia uma boa empregada doméstica pelo mesmo preço e a mesma facilidade. A outra origem é da turma do “pegar o jornal e ler além do horóscopo ninguém quer”; se quisesse, o autor da frase saberia que o Bolsa Empreiteiro (que também dispensa a enxada) consome muito mais o orçamento público do que programa de transferência de renda.

 Ou que a maioria dos beneficiários de Bolsa Família não só trabalha como é obrigada a vacinar os filhos, manter a regularidade na escola e atravessar as portas de saída do programa. Mas a ojeriza sobre números e fatos é a mesma que consagrou a enxada como símbolo do nojo ao trabalho.

“Na ditadura as coisas funcionavam”

Frase geralmente acolhida por pacientes com síndrome de Estocolmo. Entre 1964 e 1985, a economia nacional crescia para poucos, às custas de endividamento externo e da subserviência a Washington; universalização do ensino e da saúde era piada pronta, ninguém podia escolher os seus representantes, a imprensa não podia criticar os generais e a sensação de segurança e honestidade era construída à base da omissão porque ninguém investigava ninguém. 

Em todo caso, qualquer desvio identificado era prontamente ofuscado com receitas de bolo na primeira página (os bolos eram de fato melhores).

“Você defende direito de presos porque ele não agrediu ninguém da sua família”.

É o sofisma usado geralmente contra quem defende o uso das leis para que a lei seja garantida. Para o sujeito, aplicação de penas e encarceramentos são privilégios bancados às custas dele, o contribuinte.

 Em sua lógica, o Estado só seria efetivo se garantisse a sua segurança e instituísse a vingança como base constitucional. Assim, a eventual agressão contra um integrante de uma família seria compensada com a agressão a um integrante da família do acusado.

 O acúmulo de experiência, aperfeiçoamento de leis e instituições, para ele, são papo de intelectual: bons eram os tempos dos linchamentos, dos apedrejamentos públicos, da Lei de Talião. Falta perguntar se o defensor do fuzilamento está disposto a dar a cara a tapa, ou a tiro, quando o filho dirigir bêbado, atropelar, agredir e violentar a família de quem, como ele, defende penas mais duras para crimes inafiançáveis.

“A criminalidade só vai diminuir quando tiver pena de morte no Brasil”

Frase repetida por quem admira o modelo prisional e o corredor da morte dos EUA, o país mais rico do mundo e ao mesmo tempo o mais violento entre as nações desenvolvidas. Lá o crime pode não compensar (em algum lugar compensa?), mas está longe de ser varrido junto com seus meliantes.

“Político deveria ser tratado por médico cubano”

Tradução: “não gosto de política nem de cubano”. Pelo raciocínio, todo paciente tratado por cubanos VAI morrer e todo político que precisa de tratamento médico DEVE morrer. Para o autor da frase, bons eram os tempos em que, na falta de médico brasileiro, deixava-se o paciente morrer – ou quando as leis eram criadas não pelo Legislativo, mas pelo humor de quem governa na canetada.

“Deveriam fazer testes de medicamento em presidiários, não em animais”

Também conhecida como “não aprendemos nada com a parábola do filho Pródigo que tantas vezes rezamos na catequese”. É citada por quem não aceita tratamento desumano contra os bichos, mas não liga para o tratamento desumano contra humanos. É repetida também por quem se imagina livre de todo pecado e das grandes ironias da vida, como um certo fiscal da prefeitura de São Paulo que um certo dia criticou o direito ao indulto de presidiários e, no outro, estava preso acusado de participação na máfia do ISS. É como dizem: teste de laboratório na cela dos outros é refresco.

“Por que você não vai para Cuba?”

Também conhecida como “acabou meu estoque de argumentos. Estou andando na banguela”.

 MATHEUS PICHONELLI

GAZETA SANTA CÂNDIDA,
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JUSCELINO KUBITSCHEK FOI ASSASSINADO EM 22 DE AGOSTO DE 1976,ESTÁ É A CONCLUSÃO DA COMISSÃO DA VERDADE


Documento divulgado hoje pela Comissão da Verdade reúne elementos inéditos que desmontam versão oficial sobre morte de JK

jk assassinado comissão da verdade
(Foto: Juscelino Kubitschek na inauguração da fabrica de chassis da Mercedes / 
por Antonio Lucio)
Os membros da Comissão Municipal da Verdade de São Paulo ‘Vladimir Herzog’ declararam hoje (10) que o ex-presidente da República Juscelino Kubitschek foi vítima de um assassinato político, e que o acidente automobilístico que tirou sua vida, em 22 de agosto de 1976, foi fruto de um complô ordenado pela cúpula da ditadura que então governava o país.

Aventada há décadas por familiares de JK e opositores do regime militar, a declaração dos parlamentares paulistanos se baseia num estudo conduzido ao longo de nove meses pelo grupo, sob a coordenação do vereador Gilberto Natalini (PV), ele mesmo uma vítima da repressão, e presidente do colegiado instalado na Câmara Municipal em maio do ano passado. 

Além dele, Juliana Cardoso (PT), Mário Covas Neto (PSDB), Ricardo Young (PPS), José Police Neto (PSD), Laércio Benko (PHS) e Rubens Calvo (PMDB) assinam o documento de 29 páginas, intitulado Relatório JK.

“Estamos pedindo que o Brasil declare que Juscelino morreu de morte matada, e não de morte morrida. Não foi acidente, foi um atentado que provocou aquele acidente que matou JK”, exige Natalini.

 Para o vereador, todos os indícios apontam que os mandantes do crime foram os generais Golbery do Couto e Silva, então ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República, e João Baptista Figueiredo, que na época comandava o Serviço Nacional de Informações (SNI) e dois anos depois seria nomeado como último presidente militar do país.


O vereador lembra que a morte de JK inaugurou um período de 272 dias em que também morreram o ex-presidente João Goulart, em 6 de dezembro de 1976, e o ex-governador da Guanabara, Carlos Lacerda, em 21 de maio de 1977. 

Os três políticos perderam a vida em circunstâncias controversas. Na mesma época, outros líderes latino-americanos, opositores dos regimes militares que tomaram o continente, também morreram em condições misteriosas – ou foram escandalosamente assassinados.

“JK partia para uma candidatura”, lembra Natalini. “Isso, somado às questões do Cone Sul, mostra que houve uma articulação e que Juscelino era um dos adversários políticos a serem eliminados.” 

O Relatório JK recorda trechos de uma correspondência trocada entre João Baptista Figueiredo e o chefe da polícia secreta chilena, Manuel Contreras Sepúlveda, mostrando que os serviços de inteligência estavam preocupados com o surgimento de alternativas democráticas aos regimes militares na região.

Versões

Juscelino Kubitschek perdeu a vida após o veículo em que se encontrava, um Opala, fabricado pela Chevrolet, colidir frontalmente com um caminhão Scania-Vabis. O acidente ocorreu na Rodovia Presidente Dutra, na altura do km 168, atual km 331, no município de Resende (RJ). Conduzido pelo motorista Geraldo Ribeiro, que trabalhava com JK havia 36 anos, o carro do ex-presidente tinha saído de São Paulo com destino ao Rio de Janeiro.

A versão oficial atesta que o motorista de JK perdeu o controle do Opala após ter sido abalroado por um ônibus da Viação Cometa, que seguia na mesma direção. O toque entre os veículos teria feito com que Ribeiro, de 64 anos, não conseguisse fazer a curva à direita que surgiria logo à frente. O carro, então, passou para a pista contrária, batendo de frente com o caminhão. Tanto JK como seu motorista morreram instantaneamente.

Com 90 pontos, o Relatório JK se dedica a desmontar essa versão, defendendo a tese de que o acidente não foi provocado pela imperícia de Geraldo Ribeiro ou pelo choque de um ônibus no Opala que conduzia o ex-presidente. De acordo com Gilberto Natalini e os demais vereadores que assinam o documento, o motorista de JK recebeu um tiro na cabeça momentos antes de fazer a curva. Por isso é que, desfalecido, perdeu o controle do carro, passou para a pista contrária e colidiu com o Scania.

Novidades

A Comissão Municipal da Verdade não consegue provar de maneira cabal essa versão. Seus membros, porém, obtiveram pela primeira vez alguns fatos e testemunhos importantes para contestar a história oficial. A informação nova foi somada a indícios, evidências, documentos e contradições que já eram conhecidos da opinião pública graças ao trabalho de jornalistas que haviam se dedicado à investigação da morte de JK. Alguns livros sobre o assunto também são citados.

“Tivemos algumas coisas que não eram conhecidas, que nós trouxemos, e reunimos provas que estavam soltas por aí, jogadas, divididas e diminuídas. Fomos juntando ponta por ponta e produzimos o relatório”, explica o parlamentar do PV. Natalini cita como exemplos de suas “descobertas” o extravio de laudos periciais que atestam a presença de “fragmentos metálicos” dentro do crânio do motorista de JK. Os restos mortais de Geraldo Ribeiro foram exumados em 1996. “Ninguém sabia desse sumiço.”

“O depoimento do motorista da carreta (que vinha atrás do Scania que colidiu com o Opala) também não era conhecido de ninguém. Fomos buscar lá em Santa Catarina. Passamos o dia com ele e ele contou”, continua Natalini, fazendo referência ao motorista de caminhão aposentado Ademar Jahn, que prestou três depoimentos à Comissão Municipal da Verdade no último mês de novembro, em Joinville (SC). Jahn conduzia um caminhão pela Rodovia Presidente Dutra no momento do acidente, e afirma ter visto o Opala de JK passando para o outro lado da pista.

De acordo com o Relatório JK, nos instantes que antecederam a batida, o motorista catarinense viu Geraldo Ribeiro debruçado, com a cabeça caída entre o volante e a porta do automóvel, “não restando dúvida de que o condutor se encontrava desacordado e inconsciente, e já não controlava o veículo, antes do impacto com o caminhão.”

 Para Natalini, o testemunho, inédito, ao lado dos indícios periciais de que o motorista de JK recebeu um tiro na cabeça, é um dos principais elementos a sustentar a tese dos vereadores paulistas.

“Vamos oficiar a presidenta da República, o presidente do Congresso, o presidente do Supremo Tribunal Federal e o coordenador da Comissão Nacional da Verdade, pedindo que o Brasil reconheça que JK foi assassinado, e que não houve morte acidental”, anuncia Natalini, que espera agora ações concretas das autoridades brasileiras. 

“Elas têm o poder de fato, legal, de reescrever a história. Espero que entendam que foi trabalho sério, dedicado e sereno. Vamos mandar pra eles uma quantidade enorme de provas, porque tudo o que está escrito aqui tem provas.”

Tadeu Breda, RBA


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