sábado, 27 de setembro de 2014

DILMA APLIA VANTAGEM SOBRE MARINA, DIZ DATAFOLHA

Novo Datafolha: Dilma Rousseff dobra vantagem sobre Marina Silva no primeiro turno e pela primeira vez também vence no segundo

Pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira (26) mostra a candidata do PT à reeleição, Dilma Rousseff, com 40% das intenções de voto, Marina Silva, do PSB, com 27%, e Aécio Neves, do PSDB, com 18%. A pesquisa foi encomendada pela TV Globo e pelo jornal Folha de S.Paulo.

A vantagem de Dilma sobre Marina no primeiro turno aumentou em relação à pesquisa anterior, divulgada no dia 19, na qual Dilma aparecia com 37% e Marina com 30%. Aécio estava com com 17% das intenções de voto.

No levantamento de hoje, os candidatos Pastor Everaldo, do PSC; Luciana Genro, do PSOL, e Eduardo Jorge, do PV, aparecem cada um com 1% das intenções. Os demais candidatos, Zé Maria, do PSTU; Eymael, do PSDC; Levy Fidelix, do PRTB; Mauro Iasi, do PCB; e Rui Costa Pimenta, do PCO, têm, juntos, 1%. Votos nulos ou brancos somam 5% e são 6% os indecisos.

De acordo com a pesquisa, na simulação de segundo turno entre Dilma e Marina, a candidata do PT alcançaria 47%, contra 43% da candidata do PSB, o que configura empate técnico considerada a margem de erro de 2 pontos percentuais. Na semana passada, Marina tinha 46% e Dilma, 44%.

Em uma possível disputa entre Dilma e Aécio, a petista venceria por 50% a 39%. Na semana passada, Dilma tinha 49% e Aécio, 39%.

Dilma tem 31% de rejeição; Marina, 23%; Pastor Everaldo, 22%; Aécio, 20%; Zé Maria, 17%; Levy Fidelix, 17%; Eymael, 16%; Luciana Genro, 15%; Rui Costa Pimenta, 14%; Eduardo Jorge, 13%; e Mauro Iasi, 13%.

Foram feitas 11.474 entrevistas, ontem (25) e hoje, em 402 municípios. Com margem de erro de 2 pontos percentuais (para mais ou para menos) e nível de confiança de 95%, a pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral com o número BR-00782/2014.

Agência Brasil

ESPECIAL: 25 ANOS DAS ELEIÇÕES DE 1989

Há 25 anos, o país voltava a escolher seu presidente e a política estava na rua. Eleição de 1989, conquistada quase seis anos depois das Diretas Já, e marcada por golpes baixos, encaminhou consolidação democrática em meio ao fim da Guerra Fria. Marqueteiros tinham menos presença

Eleições de 1989: Há 25 anos, o Brasil voltava a escolher seu presidente e a política estava na rua (Pragmatismo Político)

Especial. Vitor Nuzzi. Rede Brasil Atual.

Hilton Acioli vai lembrando e cantarola, “rompe a cortina do passado”, “vai lá e vê que a alegria já demorou demais”. O compositor havia recebido “duas palavrinhas” do publicitário Paulo de Tarso Santos e teve a responsabilidade de fazer um jingle. Vê o que dá para fazer, disseram a ele. “Na hora, eu não achei nada”, lembra o compositor potiguar, que completará 65 anos em outubro, na véspera da eleição, e foi componente do Trio Marayá, nos anos 1950 e 1960. “A sorte é que ficou na minha memória.” Para buscar a canção, ele conta que havia a preocupação de aproximar o “tema” do jingle ao que Hilton chama de elite popular, citando Noel Rosa, Ary Barroso, Pixinguinha: “Populares, mas ao mesmo tempo clássicos.”

De Ary veio um mote: “Abre a cortina do passado”, canta de novo. E foi assim que ele compôs um samba, no início de 1989, para apresentar aos “clientes”, no comitê de campanha, na Vila Mariana, zona sul de São Paulo. Estavam lá Ricardo Kotscho, Aloizio Mercadante, Vladimir Pomar, entre outros. O “tema” viria de Brasília para escutar, mas não foi. E Hilton cantou o samba: “Eu olhava na cara deles e pensava: a música não é esta”. De lá, saiu para papear com um amigo, o publicitário Osvaldo de Melo, a quem repetiu: acho que não é essa música. E foi para casa. “Quando acordei, me veio a música.”

E ele cantarola mais uma vez um dos jingles políticos mais marcantes de todos os tempos. “Quando você faz uma música nova, que você acredita, fica todo energizado”, diz Hilton, lembrando das origens do Lula lá, feito para a primeira campanha de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República, em 1989. A letra da música faz referência ao “primeiro voto”. A ideia era falar tanto dos jovens como de quem, de fato, iria pela primeira vez à urna para escolher o presidente.
O grito das Diretas Já ganhou as ruas do país entre 1983 e 1984. O direto de eleger o presidente viria em 1989 | Foto: Fernando Santos/Folhapress (25/1/1984)

Era a primeira eleição presidencial desde 1960. Nos momentos finais da ditadura, o Brasil voltara a escolher governadores pelo voto direto (1982) e prefeitos de capitais e parte dos municípios (1985). Passara por uma campanha nacional de restabelecimento das eleições presidenciais, o movimento das Diretas Já, em 1984, direito só reconquistado em 1989, quando foram às urnas 70 milhões de pessoas, menos da metade do eleitorado atual. Para o cientista político Paulo d’Avila Filho, a eleição de 1989 “simboliza a retomada da democracia”. Este ano, o Brasil vai para a sétima eleição presidencial seguida, uma sequência inédita no país.
Candidatos: 22

Essa retomada, de certa forma, pode ser medida pela quantidade de candidatos a presidente: 22, número que nunca mais se repetiu. Este ano, por exemplo, são 11. Se hoje há três candidatas, duas disputando o primeiro lugar, em 1989 apareceu a primeira mulher na disputa presidencial: a advogada mineira Lívia Abreu, do Partido Nacionalista (PN), que recebeu 180 mil votos, 0,25% do eleitorado. Ali apareceu pela primeira vez Enéas Carneiro, do nanico Prona (360 mil votos, 0,5%). Lanterna do primeiro turno (4 mil votos, 0,01%), Armando Corrêa, o “candidato dos explorados”, chegou a renunciar em favor do apresentador Silvio Santos, que apareceu 15 dias antes do primeiro turno, mas foi barrado pela Justiça Eleitoral.

Na política brasileira, depois da frustrada campanha das diretas, a maior parte da oposição, ao lado de ex-integrantes do governo, partiu para o voto indireto no colégio eleitoral. O governador de Minas Gerais, Tancredo Neves (PMDB), superou Paulo Maluf (PDS, partido que sucedeu a Arena, que sustentava a ditadura), e foi eleito presidente, com apoio de alguns remanescentes do antigo regime, reunidos sob o título de Nova República, que duraria pouco.

Tancredo não chegou a assumir. Foi internado na véspera da posse, em 15 de março de 1985, e morreu pouco mais de um mês depois, em 21 de abril. Sarney assumiu e, no final de governo, estava praticamente isolado. Mesmo com a esperança democrática, as tensões continuavam e os planos econômicos não davam conta de superar as altas constantes do custo de vida.

Eram tempos de inflação nas nuvens. Quase 40% ao mês, incríveis 758,79% acumulados naquele ano, até outubro (IPC) e 1.303,78% em 12 meses. Havia o dólar no mercado paralelo, ou “black”, com ágio de 100% em relação ao oficial.
O país vinha da eleição de Tancredo Neves pela via indireta, com uma morte que levou José Sarney ao poder | Foto: Célio Azevedo/Fotos Públicas

Na política, conservadores ainda assombravam a população com fantasmas, como o comunismo. Foi em 1989 que caiu o Muro de Berlim, que separava as Alemanhas (divididas em Ocidental, capitalista, e Oriental, comunista), em representação real e dramática da divisão ideológica mundial. Em 1991, a União Soviética, o outro lado da “Guerra Fria” com os Estados Unidos, deixaria de desistir. A eleição de 1989, para o conservadorismo, ainda acenava com a ameaça esquerdista “Brizula”, junção dos nomes de Brizola e Lula.

Assessor de imprensa de Lula, o jornalista Ricardo Kotscho lembra que a inserção de alguns desses fantasmas dificultou até o simples aluguel de uma casa para sediar o comitê. Um empresário amigo dele chegou a dizer que não poderia alugar um imóvel, porque com uma vitória de Lula a sua propriedade seria tomada. “Era muito difícil. O que animava era a militância. Era tudo muito improvisado. Muitos comícios… Estou cansado até hoje. E também era uma grande festa, que, para mim, pareceu uma continuação da campanha das diretas. A gente sabia que estava participando de um momento histórico.”
Palanque

Do esquema quase mambembe no primeiro turno, a estrutura melhorou um pouco no segundo, quando Lula, pelo PT, enfrentou Fernando Collor, do PRN. Até apareceu um jatinho, coisa que sobrava na campanha adversária. Subiram no palanque do petista os candidatos do PDT, Leonel Brizola, e do jovem PSDB (criado um ano antes), Mário Covas, quarto colocado no primeiro turno, com 7,8 milhões de votos. Só não estava “o doutor Ulysses”, o candidato do PMDB, Ulysses Guimarães, porque Lula não quis – e Kotscho observa que, tempos depois, o candidato do PT reconheceria ter cometido um erro político. Isso não impediu que a campanha tomasse corpo, a ponto de ninguém cravar o resultado.

Na primeira votação, em 15 de novembro, Collor teve 22,6 milhões de votos (28,52%) e Lula, 11,6 milhões (16%), em disputa acirrada com Brizola, a quem superou por apenas 500 mil votos. Na véspera do segundo turno, que seria em 17 de dezembro, as pesquisas apontavam situação de empate técnico, com tendência de ascensão do petista. Do dia 7 ao 17, segundo o instituto Datafolha, Collor foi de 50% para 47% e Lula, de 41% para 44% Parecia estar se confirmando um vaticínio do veterano Brizola, autor da expressão “sapo barbudo” para se referir a Lula, no sentido de um batráquio que seria imposto à conservadora elite brasileira.

Cada um do seu jeito, Lula e Collor representavam o “novo” naquela eleição, observa o especialista Chico Santa Rita, um dos precursores do marketing político no Brasil. Vindo da campanha de Orestes Quércia (PMDB) a governador em 1986, ele havia trabalhado com Ulysses no primeiro turno (3,2 milhões de votos) e fora convocado pelo staff de Collor, àquela altura preocupado com a possibilidade de derrota. A primeira providência foi fazer uma pesquisa qualitativa, ainda pouco comum. “O quadro era que as pessoas estavam cansadas da ditadura e do governo Sarney, que tinha uma avaliação péssima. Elas queriam o novo. Uma sensação semelhante ao que há hoje. Foram (para o segundo turno) os candidatos mais novos, um líder sindical combativo e um governador jovem, com uma proposta de acabar com os escândalos, os marajás.”

Ele assumiu quase em momento de emergência, com a equipe anterior demitida. “O que eu diagnostiquei? Tinha um discurso (no primeiro turno) muito forte na moralização da administração pública. Não sei se estavam cansados… O programa foi ficando fraco, com mais brincadeirinha, pessoas ficavam coloridas. O que eu fiz foi retomar o discurso político com muita força.”
Fantasia

Chico Santa Rita acredita que há deformações e falta de entendimento em relação ao trabalho do marketing político. “O pessoal acha que é propaganda. É uma atividade multifacetada, que inclui elementos da propaganda, do jornalismo, da pesquisa, de relações públicas. Tem uma complexidade. Não é feito para criar o candidato, mas para para melhorar o desempenho do candidato. Todas as vezes que eu vi fazerem isso, não deu certo.” Ele também critica programas atuais, citando tanto PT como PSDB. “Usam e abusam de uma distorção da verdade, mostrando um país que parece de fantasia. Está havendo exagero. O marketing político foi feito para dinamizar a discussão política.”
Surgido com pinta de bom moço, Collor acabou vitorioso após um segundo turno marcado por acusações e atritos (Foto: Chico Ferreira/Folhapress)

Em seu livro Batalhas Eleitorais, Chico relata episódios que, de certa forma, mostram que a campanha teve momentos que estiveram bem longe do debate político. A uma semana da votação, ele recebeu das mãos de Collor um vídeo com imagens de um fuzilamento de três prisioneiros – Lula aparecia olhando e até sorrindo, ao final. Sem acreditar, reviu e depois chamou o engenheiro que prestava assistência técnica. A resposta foi clara: “Trata-se de uma montagem. A imagem de Lula foi superposta na imagem básica do fuzilamento”. O vídeo não foi ao ar.

Além disso, havia a constante menção ao “comunismo” como ameaça e um suposto “derramamento de sangue”, como chegou a dizer Collor, que o PT promoveria para chegar ao poder. “O Lula nunca deixou responder no mesmo nível. Ele nunca aceitou o vale-tudo”, diz Kotscho. Para ele, o uso do marketing político surgiu com Collor, que contava com grande estrutura de campanha. “No nosso caso, era um grande mutirão. Tinha muitos voluntários. E todo mundo dava palpite. Era mais amador, mais coletivo.”

Kotscho viajava com Lula, escrevia o texto com o dia do candidato e, por telefone ou telex – não existia internet – mandava o material para o também jornalista Sérgio Canova, que repassava para as redações. Para ganhar tempo, marcava entrevistas coletivas nos aeroportos. Em uma dessas paradas, em Maceió, estranhou não ver ninguém para entrevistar o líder petista. “Aqui tudo é do homem”, foi a explicação que recebeu do coordenador local. O “homem” era Collor, dono de grande parte dos meios de comunicação de Alagoas.

O final da história é conhecido. Com 35 milhões de votos (53% dos válidos), Collor foi eleito. Lula recebeu 31 milhões (47%). Em 1992, o presidente sofreu impeachment e o vice, Itamar Franco, assumiu.
Após primeiro turno apertado, Lula recebeu apoio de candidatos de esquerda e esteve próximo de vencer Collor (Foto: Niels Andreas/Folhapress)

“Marqueteiro” de Lula em 1989, o publicitário Paulo de Tarso Santos considera “paradigmática” aquela eleição. Lembra que, em 1982, ainda estava em vigor a Lei Falcão (Lei 6.339, de 1976, que ganhou o nome do então ministro da Justiça, Armando Falcão). Na prática, o texto proibia qualquer campanha eleitoral. Só era permitido divulgar legenda, currículo e número do candidato – na TV, também a foto. Ninguém podia falar, algo no estilo “nada a declarar”, frase que se tornou associada ao ministro da Justiça do governo Geisel (1974-1979). A lei foi revogada em 1984. A campanha de 1985, para a prefeitura de São Paulo, já trouxe a experiência do slogan ‘Experimente Suplicy”, “já tentando um uso criativo do programa eleitoral.”
‘Radicalizar a esquerda’

Em 1989, o objetivo era “radicalizar a esquerda”, conta Paulo de Tarso. “O início do raciocínio – eu, Carlos Azevedo e Zé Américo – foi muito simples. Tínhamos 22 candidatos, e de 25% a 30% do eleitorado se dizia de esquerda. Queríamos falar direto com o pensamento progressista. Tinha várias peças de jornalismo mostrando a desigualdade no Brasil. Era uma campanha bem política, com menos propaganda.” Porém a campanha precisava de uma “embalagem”. Em uma reunião em sua casa, surgiu a ideia da Rede Povo, programa que marcou a campanha – e qualquer semelhança com uma emissora de televisão não é coincidência. “Eu até brincava: se é para pegar o inimigo, vamos pegar o inimigo de verdade.”

Para a campanha no segundo turno, Paulo de Tarso diz que havia a ideia de construir um “Lulinha paz e amor”, como se falaria em 2002, quando o petista enfim chegou à Presidência da República. “Mas não deu tempo. Começaram contra nós uma campanha anticomunista”, afirma o publicitário, para quem a campanha na TV foi vitoriosa.

Ele também faz ressalva ao trabalho do marketing político. “O Lula falava de improviso. A gente passava o tema do programa, ele estudava e traduzia, e a gente ia aprimorando juntos no estúdio, sugerindo coisas que ele encaixava ou não. A gente sempre privilegiou a autenticidade dele. Não tinha todo esse arsenal de monitoramento que tem hoje.” Para Paulo de Tarso, o que deve prevalecer é a intuição do político. “As pesquisas são um instrumento para você ter uma medida da opinião pública, para você não bater o prego com os dedos.”

A paternidade da expressão “Lula lá” ainda causa alguma polêmica. Alguns a atribuem ao publicitário Carlito Maia, outros, inclusive ele próprio, a Paulo de Tarso, que passou a encomenda do jingle a Hilton Acioli. Ele conta que, além de não gostar de trocadilho, achava o tema fraco, preferindo algo mais no estilo “povo no poder”. “A gente não tinha a menor noção. Tinha certeza de que a gente ia levar o maior cacete. Foi um fato político gigantesco.”

Para Paulo d’Avila, o que mudou em relação a 1989, basicamente, foi o perfil do eleitorado, à medida que as eleições foram se tornando rotineiras. “O que a literatura mostra é que o eleitorado vai se comportando mais para uma curva normal, o que leva os competidores a uma posição mais conservadora”, analisa. Naquele ano, acrescenta o cientista político, havia “grande massa com expectativas mais à esquerda e mais à direita”, o que permitia maior polarização.

De um lado havia Brizola, Roberto Freire (PCB), Lula e, de certa forma, até Covas disputando um naco de centro-esquerda. “O eleitorado desejava o novo. Quem se destaca naquela eleição? O discurso mais à esquerda, Lula/Brizola”, diz o professor.

Na outro lado, candidatos como Guilherme Afif e Collor. “Havia um eleitorado disposto a consumir as expectativas mais polarizadas. Quanto mais você consolida o procedimento (eleição), mais o eleitorado vai se acomodando. Você passa a disputar o centro.” Ele identifica um processo de “mediocrização” do processo político – “No sentido exato do termo, do médio.”

D’Avila também destaca a relevância que o marketing político ganha naquele eleição. “Nós nos redemocratizávamos numa sociedade da comunicação, principalmente com a televisão. O Collor foi incrivelmente fiel à persona que criaram para ele.”
Romantismo

A uma indagação se havia mais espontaneidade naquela campanha, o cientista político acredita que existe certo “romantismo” em relação a isso. “Espontaneísmo serve para disputar posições”, diz d’Avila. Falando sobre as campanhas atuais, ele acredita não ser possível a um candidato em condições de vencer dizer o que pensa, mas o que é necessário ser dito. “Não significa mentir, mas ajustar o discurso”. O eleitor vai se identificando com os candidatos e há o processo de acomodação. “Aquele espectro de 1989 não desapareceu, vai sendo incorporado a coalizões de governo.”
Debate entre Collor e Lula no SBT; na época, edições eram permitidas. ‘Jornal Nacional’ abusaria do recurso | Foto: Vidal Cavalcante/Folhapress (dez/1989)

As mudanças podem ser constatadas também nos debates televisivos. Em 1989, os embates eram frequentes e, por vezes, ríspidos. Ficou célebre, por exemplo, um bate-boca entre Brizola, o “desequilibrado”, e Maluf, o “filhote da ditadura”. Para Paulo d’Avila, as regras atuais engessaram o debate em um cenário “duplamente engessado”, em relação aos temas. “Em 1989, saindo de uma ditadura, os candidatos falavam mais de Estado. Hoje, seria impensável… Lembro de uma discussão entre Lula e Roberto Freire sobre a relação de seus partidos com a OIT (Organização Internacional do Trabalho). O formato (do debate) acho que nem é o principal problema. Antes, tinha pouca regra porque não havia debate.”

E há também a “qualidade dos quadros”. Kotscho concorda com esse último item: “Os personagens políticos eram diferentes. Empobreceu muito o debate, não é só questão de regra”. Além de identificar queda na audiência da TV, o jornalista vê pessoas se xingando nas redes sociais e falta de grandes comícios. “Enquanto não houver reforma política, não vai mudar nada.”

Eles também coincidem, em certa medida, na análise sobre o comportamento da mídia. “Varia de uma eleição para outra. Foi muito difícil em 1989. Nunca vi algo tão escrachado como agora”, diz Kotscho. “Não disfarçam mais. Não estão tendo pudor.” Assim, segundo ele, depois de abraçar inicialmente a candidatura de Aécio Neves (PSDB), os principais meios de comunicação passaram a fazer campanha aberta para Marina Silva (PSB). E, obviamente, passa pelo rol de polêmicas daquele ano a edição, pelo Jornal Nacional, do debate no segundo turno. No livro Do Golpe ao Planalto, Kotscho resume desta maneira: “Editaram só os melhores momentos de Collor e os piores de Lula. O resultado do jogo, que tinha sido 2 x1 na edição do Hoje (telejornal vespertino), transformou-se magicamente em 10 x 0″.
Imparcialidade?

“Em 89, ainda que se possa dizer que havia uma preferência eleitoral, ainda havia uma enorme preocupação de dizer que não. Hoje, acho que são muito mais explícitas as posições dos meios de comunicação em relação a suas preferências”, comenta Paulo d’Avila. “Hoje caminha (o jornalismo) para um tipo de cobertura que explicita cada vez mais a sua preferência.” Para ele, “a fantasia da imparcialidade habita os bancos escolares do Jornalismo e do Direito”. Ele costuma dizer aos alunos que, quem quiser, sabe onde é possível encontrar notícias pró e contra o governo, mas acredita que a situação melhoraria em um ambiente de maior competitividade nos meios de comunicação.



Ainda sob o efeito do ato de artistas a favor de Dilma, no dia 15, no Rio de Janeiro, o ator Sérgio Mamberti destaca o discurso de Lula sobre o “marco civil” da mídia e acrescenta: “Eu falo isso desde 89″. Para ele, a mídia constitui hoje um campo de dominação e deixa o consumidor de notícia “praticamente subordinado ao interesse dessas grandes corporações”.

Naquela campanha, marcada por intensa participação do mundo artístico, política e cultura estavam no mesmo campo, avalia Mamberti. “A política é uma dimensão da cultura”, diz o ator, estendendo o raciocínio à questão da educação, que, para ele, não pode ser isolada, sob risco de cair na tecnocracia. “O centro do governo tem de entender que a dimensão da cultura oferece uma oportunidade de reflexão. As transformações se dão no campo da cultura, no campo das ideias.”

Ele lamenta que tenha havido, no Brasil, uma desqualificação do processo político, especialmente após o episódio conhecido como mensalão. “Não que não foram cometidos erros, mas o processo (a ação) foi tendencioso. A sociedade ainda vai ter de se apropriar da verdade. A reforma política passa a ser um tema absolutamente contemporâneo”, diz Mamberti.

O ator também faz ressalvas ao tratamento que é dado hoje aos candidatos, por meio do marketing político. “Eu diria que o marqueteiro tem uma hegemonia que distancia o candidato de uma discussão política mais profunda. Acho que a gente tinha de ter um aperfeiçoamento técnico do ponto de vista da comunicação, mas, de repente, houve uma inversão de papéis, a embalagem se colocou acima da política.”

Também desse ponto de vista, 1989 foi emblemático. “Embora houvesse os marqueteiros, nós todos participávamos, dávamos contribuições. A gente podia fazer sugestões, que eram aceitas. Hoje, não existe mais esse espaço criativo de um Henfil e de um Carlito Maia. Essa dimensão cultural se expressava plenamente em todas as formas que a gente foi construindo de uma visão coletiva.”

Para Mamberti, 1989 representou o momento final de saída do regime autoritário. “A gente tinha certeza de que ia começar um novo momento na história do Brasil.” Ele espera que haja continuidade nessa direção. “A participação social seria a forma de legitimar a construção de políticas públicas. Para aprofundar e radicalizar esse processo democrático, não basta que as pessoas tenham ascensão econômica”, observa o ator.

Hilton Acioli destaca a “efervescência” daquele momento político. “Desde 1984, na campanha das diretas, já tinha muita gente envolvida.” E é por isso que as músicas permanecem, acredita o compositor. “Ficou com o cheiro daquele tempo.”

ESTRUPO COLETIVO EM QUEIMADAS: MENTOR É CONDENADO A 108 ANOS DE PRISÃO

Após 19h de julgamento, mentor do estupro coletivo de Queimadas, caso que chocou o Brasil e teve repercussão mundial, é condenado a um total 108 anos de prisão


Eduardo dos Santos Pereira, mentor do estupro coletivo de Queimadas (Foto: Jornal Correio da Paraíba)

O réu Eduardo dos Santos Pereira, acusado de ser o mentor do estupro coletivo que ficou conhecido como “Caso Queimadas”, em 2012, foi condenado a um total de 108 anos de prisão. O julgamento durou cerca de 19 horas e foi realizado no Fórum Criminal de João Pessoa. O júri popular começou na tarde dessa quinta-feira (25) e se encerrou na manhã da sexta-feira (26).

O Conselho de Sentença composto por quatro homens e três mulheres se reuniu por volta das 5h20 desta sexta-feira (26) e saiu da sala cerca de três horas depois. O Juiz Antônio Maroja Limeira Filho leu a sentença que apontou o réu como culpado. São 106 anos e 5 meses por homicídio, formação de quadrilha, cárcere privado e corrupção de menores e porte ilegal de arma e mais um 1 ano e 10 por lesão corporal.
O caso

Em pleno carnaval, cinco mulheres foram atraídas para um aniversário, que se transformou, numa cena de cri­me bárbaro de estupro e assassinato de duas mulheres (relembre aqui), Isabela Pajuçara e Mi­chelle Domingos. O crime foi minucio­samente planejado por 10 homens, en­tre eles três menores de idade, o que chocou e ainda choca a população bra­sileira e mundial. O caso ocorreu em 12 de fevereiro de 2012.
Justiça

Pedir justiça foi o lema das famílias das vítimas e de todos os movimentos sociais feministas e de mulheres da Pa­raíba que se reuniram para protestar contra o machismo e a misoginia que ainda resistem na socie­dade brasileira.


Manifestações pediram justiça e o fim da violência contra a mulher (divulgação)

“Diante da dimensão de desumanida­de e dos detalhes frios, cruéis e selvagens que envolveram este dia de violência pe­dimos a condenação máxima do acusa­do”, declarou Lourdes Meira, militante da União Brasileira de Mulheres.

A justificativa do crime: presente de aniversário para Luciano dos Santos Pe­reira (44). O mentor do crime foi o irmão de Luciano, Eduardo dos Santos Pereira, que era ex-cunhado de Isabela Pajuçara, uma das mulheres assassinadas.

Muita pressão foi feita e organiza­da nas ruas pedindo justiça, a CPMI da Violência contra a Mulher visitou a Pa­raíba e diagnosticou a situação de vulne­rabilidade das mulheres em Queimadas e em seu entorno. Mas a indignação ain­da continua.

Isabela Pajuçara e Mi­chelle Domingos, assassinadas no estupro coletivo de Queimadas (divulgação)

“A objetificação das mulheres é susten­tada na sociedade capitalista, machista, racista e patriarcal que vivemos. Diaria­mente as mulheres são violentadas pelo Estado e pela sociedade, mulheres mor­rem pela sua condição de ser mulher”, afirma Aylla Milanez, militante da Arti­culação de Mulheres Brasileiras.
Condenados

Luciano dos Santos Pereira, Fernando de França Silva Júnior, Jacó Sousa, Luan Barbosa Cassimiro, José Jardel Sousa Araújo e Diego Rêgo Domingues – foram condenados em 2012 pelos crimes de cárcere privado, formação de quadrilha e estupro (relembre aqui). Eles cumprem penas entre 26 e 44 anos de prisão em regime fechado no presídio de Segurança Máxima PB1, em João Pessoa. Suas penas, somadas, chegam a 184 anos de prisão.

com informações de Brasil de Fato e Portal Correio

A MARCHA DOS 400 MIL EM NOVA YORK

Marcha dos 400 mil ficou conhecida como a maior da história na luta por políticas mais atentas às mudanças climáticas

Marcha dos 400 mil em Nova York foi a maior da história da cidade (divulgação)

Thiago Gabriel, Revista Vaidapé

Às 9h30 da manhã, pessoas das mais diversas nacionalidades já se agrupavam em frente ao Central Park. Cartazes variados coloriam o horizonte de prédios das ruas fechadas pela polícia para o evento. A People’s Climate March já vem sendo convocada há meses e levou aproximadamente 400 mil pessoas às ruas no último domingo (21) para exigir mudanças nas políticas adotadas ao meio ambiente.

O evento é parte da Climate Justice Alliance, movimento que organiza diversas ações diretas não-violentas durante a semana em que a cúpula climática da ONU reúne-se na cidade. O objetivo é pressionar os líderes mundiais a tomarem atitudes mais claras e incisivas para tratar a saúde do planeta. Com a presença dos governantes na cidade, a marcha chamou atenção da imprensa, que também compareceu em peso.

As ruas pareciam uma torre de Babel, composta por inúmeras línguas e nacionalidades, refletindo fielmente o complexo ecossistema urbano da cidade. Manifestações culturais locais deram o tom da caminhada. Grupos indígenas – os mais afetados pela crise climática – reproduziram uma espécie de ritual tradicional em volta de um totem de papelão. Um grupo meditava no Central Park. Chineses, peruanos, filipinos, costa-riquenhos, sul-africanos, argentinos caminhavam juntos por políticas econômicas menos danosas ao meio ambiente.

Com crachás de imprensa, convidados VIPs, seguranças voluntários da própria organização, telões e percurso combinado, o acontecimento foi a cara dos eventos norte-americanos: organizado para ser grande e ocorrer com tudo nos conformes.

Quando começou a andar, a agitação geral do público transmitia um ar emocionante e comemorativo para a marcha. Não havia raiva ou indignação, apenas a vontade de mudanças, tentando representá-las através dos gritos e cartazes. A polícia acompanhou todo o trajeto; parou o trânsito, impediu que manifestantes ultrapassassem as grades de segurança e manteve-se como observadora do evento.

Ao chegar na famosa Times Square, o ato era aguardado por centenas de turistas que preparavam suas câmeras para capturar a melhor imagem. Contidas pelas grades policiais pareciam aguardar a passagem do tapete vermelho de uma premiação.

Depois de percorrer mais de 30 quadras, a marcha chegou ao fim na 11a avenida, onde lhe aguardavam tendas, panfletos e uma organização impecável. De forma um tanto quanto melancólica, muitos saíam de lá sem saber exatamente o que havia acontecido, e porque estavam lá daquela forma. Mesmo assim, o clima era de felicidade. Sorrisos de pessoas de todas as idades, etnias, nacionalidades e culturas juntavam-se em um acontecimento histórico por um planeta que é de todos.

                             Foto da marcha passando ao lado do central park:

CUBA ENVIA MAIS 296 MÉDICOS PARA COMBATER EBOLA NA ÁFRICA

 Cuba vai enviar mais 296 profissionais de saúde à Àfrica; total chega a 461. Há duas semanas, havia anunciado a ida de 165 médicos e enfermeiros


Cuba vai enviar mais 296 médicos e enfermeiros para as regiões afetadas pela epidemia do vírus ebola na África Ocidental. O anúncio foi feito nesta sexta-feira (26/09) em Havana e os eles vão se somar aos 165 já anunciados no dia 12 de setembro. Com eles, a ilha mandará, no total, 461 profissionais de saúde.

Segundo o governo cubano, desde o dia 15 de setembro todos eles vêm sendo preparados por meio de um “curso intensivo” de teoria e prática sobre como lidar com a doença. Ainda de acordo com Havana, 15 mil profissionais da ilha se ofereceram para ir à região.

O último relatório da OMS (Organização Mundial da Saúde) aponta que o ebola já matou quase 3.000 pessoas na África Ocidental, mas o surto vem se estabilizando na Guiné.

Até 21 de setembro, 2.917 pessoas morreram de ebola dentre 6.263 casos em cinco países do oeste africano. Os dados não incluem os casos recentes descobertos após o toque de recolher em Serra Leoa. Os dados da entidade indicam que a proporção de novos casos nos últimos 21 dias diminuiu, o que sugere que a difusão da doença pode estar desacelerando.
Falta de recursos

De acordo com a OMS, faltam 1.550 leitos para tratamento na Libéria e, até o momento, ninguém ainda se comprometeu a oferecer. Em Serra Leoa, apesar dos 297 novos leitos planejados que quase dobrariam a capacidade existente, ainda são necessárias mais 532 camas.

Além disso, a taxa de mortalidade de profissionais de saúde é alta. Uma contagem mostrou que 81 morreram em Serra Leoa entre 83 que contraíram a doença – uma taxa de morte de 72%.

O governo de Serra Leoa colocou três distritos e 12 localidades de quarentena, o que representa 1,2 milhão de pessoas. Este é o maior confinamento no oeste da África desde o surgimento da atual epidemia de ebola.

Opera Mundi

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

PAPÉIS QUE SÃO PROVAS DO CAIXA 2 DE REQUIÃO ESTÃO SENDO ENTREGUES PARA O MINISTÉRIO PÚBLICO

Doático vai ao MP apresentar papéis do Caixa 2 de Requião

Hoje (sexta-feira, 26) a Gazeta do Povo adianta que o secretário-geral do PMDB de Curitiba, Doático Santos, recebeu um dossiê com 37 páginas de documentos e movimentações da contabilidade do senador Roberto Requião (PMDB). 

"Sem revelar nomes, Doá­­tico disse que a documentação foi entregue no comitê da Frente Ampla, que funciona no Centro de Curitiba. Ele afirmou ter consultado amigos peritos que teriam atestado a veracidade dos papéis. A ideia do grupo é coletar assinaturas para a notícia-crime em um ato amanhã de manhã na Boca Maldita, para protocolá-la no MP na segunda-feira", escreve Euclides Lucas Garcia.

"Liderada por Doático Santos, ex-aliado de Requião, a Frente Ampla Paraná Total diz ter tido acesso a 37 folhas de papel com anotações e recibos pessoais do senador. Na internet, o grupo afirma que os documentos foram encontrados em um cofre no Palácio das Araucárias em 2010, ano em que Requião renunciou para disputar a eleição para o Senado", diz a matéria.

MAIS UM CASO DE PEDOFILIA ATINGE A CAMPANHA DA CANDIDATA AO GOVERNO DO PARANÁ

Outro crime de pedofilia

O caso Eduardo Gaievski, o ex-assessor da ministra Gleisi Hofmann acusado e já condenado em um dos mais de 30 crimes de pedofilia e estupro de vulnerável na cidade de Realeza, não é o único do tipo a bater a porta de Gleisi Hoffmann (PT) no Paraná. 

Um vídeo disponível no YouTube desde 2010 mostra que outro crime desta natureza atingiu um importante membro do partido no interior do estado. 

Neste caso, assim como no de Eduardo Gaievski, o PT do Paraná não tomou nenhuma providência para expulsão do acusado. 

O caso em questão envolve o ex-presidente do PT de Irati, Almir Moletta, que foi acuso e preso em flagrante por estupro de vulnerável.

 Durante o caso, o PT estadual foi presidido por Gleisi e depois pelo atual presidente, Ênio Verri, que não expulsaram Moletta do partido, que chegou a concorrer em eleições de vereador pelo PT.

Em consulta ao registro de filiação do TSE, pode-se verificar que tanto Gaievski quanto Moletta continuam regularmente filiados ao PT do Paraná, mesmo após a prisão e condenação.