“No fundo, no fundo, o orgasmo é o produto
mais cobiçado de hoje em dia.
Por um princípio básico de mercado, sempre a demanda é
proporcionalmente inversa à oferta. Assim, podemos concluir que, se há uma
demanda desesperada é porque há uma oferta retraída. O orgasmo é muito
prometido e pouco cumprindo. Nem comprido (em oposição a curto). O indivíduo
que encontra, fica, namora, amiga ou casa, promete orgasmo. Mas nem sempre
entrega. Parece promessa de candidato. Produtos diversos prometem orgasmo, como
a cerveja, o novo modelo de carro, o ovo de chocolate, o macarrão instantâneo e
tantos outros. Mas tudo isso é propaganda enganosa. Ainda não foi inventado um
sucedâneo genuíno ao sexo para proporcionar o orgasmo legítimo, de qualidade. E
ter um orgasmo frustrante é ficar na mão, como diz a sabedoria popular.
Primeiramente convém tecer algumas
considerações terminológicas. Orgasmo seria produto, ou serviço? Ele tem
características de produto, por se tratar de um bem material (e imaterial), in
natura, tem valor econômico, é móvel (a jato), fungível (acaba depois do uso)
perecível (ou transitório) e tal. Não é um produto de prateleira, postula a
condição de customizado.
Por outro lado, o orgasmo tem
características exclusivas de serviço: Exige a presença de um profissional. Profissional
em termos, porque o profissional mesmo (prostituta, garoto de programa), ao
contrário do que ocorre em outros serviços, acaba por depreciá-lo. Há
tentativas frustrantes de se conseguir sozinho o orgasmo, do tipo artesanal. Mas
é como fazer justiça com as próprias mãos. É falso, sem graça e ainda, se
praticado de forma frequente e continuada, acaba se transformando em vício. O vício da
solidão, o preferido pelos auto-fornicários. Outra característica de serviço do
orgasmo é que ele não pode ser guardado ou acumulado. Ninguém consegue
acomodá-lo no cofre, nas gavetas da cômoda, ou mesmo entre as páginas do livro
de cabeceira feito folhas dissecadas de avenca. Ninguém pode dizer, estou com
cinco orgasmos guardados lá em casa e vou consumi-los semana que vem.
Portanto, o orgasmo é um bem compósito,
misto de produto e serviço. Um produto gerado e consumido simultaneamente ao
seu fazimento (como dizem os juristas).
Seja produto, seja serviço, seja produto
complexo, seja lá o que for, a verdade mesmo é que o mercado está carente de
orgasmo. Engraçado é que o segmento vem recebendo estímulos, incrementos e
incentivos de facilidade, mas o efeito tem sido contrário. A liberação dos
costumes, as roupas expositivas das partes, as facilidades de encontro, os sex
shops, os filmes pornôs, a sexificação precoce das crianças, o prolongamento da
vida útil dos velhos, os tratamentos médicos, os hormônios sintéticos, o
Viagra, os óleos lubrificantes, os preservativos, tudo está aí à mão de todo
mundo. Ainda assim a produção de orgasmos parece ter um crescimento
inversamente proporcional à demanda.
E com a oferta escassa, cada um que arme
sua estratégia e execute a melhor tática para descolar o seu de cada dia. Outro
dias me falaram de uma moça que desenvolveu uma técnica infalível para ter sua
ração de orgasmo diário, sem interrupções. Muito bonita (pras pessoas bonitas a
coisa é sempre mais fácil) ela se traja de modo atrativo, mas sem exagero, sai
de manhazinha e cada dia vai a um parque onde o pessoal faz caminhada,
normalmente sob árvores, ao redor de um lago.
Ao ver que vai cruzar com alguém que lhe
interessa, ela dá umas pedalas na frente da pessoa como se estive indecisa
quanto a mão a tomar. Aproveita para dar um sorriso simpático, pede desculpas
de modo agradável e se possível faz um afago carinhoso na pessoa atrapalhada em
sua andança. É claro que nessas alturas a outra pessoa já fica mexida. Caso a
aproximação não aconteça nessa hora mesmo, na volta seguinte é fatal. Como já
foi travado um contato anterior, a moça se vê legitimada a sorrir na próxima
volta e puxar um assunto. Vira o curso da caminhada, entabula um papo legal e
dali mesmo pode sair uma troca de telefones, ou mesmo uma agenda para a
produção e consumo do orgasmo. Assim ela não tem sofrido as agruras da escassez
de orgasmo que se abateu sobre a humanidade nos últimos tempos.
Portanto se você ainda não armou sua teia,
não estabeleceu sua tática nem saiu ao campo operacional para descolar o seu
quinhão de orgasmo no mundo, o que você está esperando? A hora é agora. A vida
é uma só e não costuma dar marcha a ré.”
Edival Lourenço, RevistaBula