![]() |
O malvado leva o
troco na atroz Amor à Vida
|
“De vez em quando, a escadaria estilo
Projac é retirada do porão para se prestar à punição de um malvado bem malvado.
Por Nirlando Beirão
O uso coreográfico de uma escadaria é recurso
mais que manjado no cinema. Das cenas de antologia gravadas na memória das
audiências, o momento-escadaria que mais me encanta, com arrepios de comoção, é
o grand finale de Sunset Boulevard, de Billy Wilder (que no Brasil ganhou o
tonitruante título Crepúsculo dos Deuses).
Nele, a autobiografada Gloria
Swanson divide as honras do estrelato com os degraus ondulantes de sua mansão
literalmente cinematográfica.
A tevê brasileira também adora uma
escadaria. Recusa-lhe, porém, qualquer protagonismo, relegada a papel
decorativo – e geralmente óbvio – quando se trata, a exemplo das novelas de
Gilberto Braga, de reiterar a caricatura: eis aqui a casa de grã-finos. Logo se
providencia um coquetel com copos de uísque chacoalhando pedras de gelo.
De vez em quando, mas só de vez em quando,
a escadaria estilo Projac é retirada do porão para se prestar à punição
exemplar de um malvado bem malvado. Como a pérfida Nazaré (Renata Sorrah), em
Senhora do Destino (de Aguinaldo Silva, entre 2004 e 2005). E, agora, Félix Khoury
(Mateus Solano), o delinquente sem limites de Amor à Vida.
A colunista Cristina Padiglione, do
Estadão, informou que o vilão vai padecer da danação do empurrão em capítulo
que vai ao ar na semana que vem. Já que, na novela desmiolada de Walcyr Carrasco,
Félix/Mateus é a única razão para fisgar a vocação sadomasoquista da plateia, o
autor tratou de dar sobrevida ao perverso. Perversidade maior é a novela, ela
própria, um folhetim destinado a desmoralizar miseravelmente todo o gênero.”