sexta-feira, 14 de novembro de 2014

MORRE O POETA MANOEL DE BARROS EM CAMPO GRANDE

Manoel de Barros começou a esboçar os primeiros poemas aos 13 anos
Manoel de Barros começou a esboçar os primeiros poemas aos 13 anos
O poeta Manoel de Barros morreu nesta quinta-feira, em Campo Grande. 

Considerado um dos maiores autores da língua portuguesa, ele estava internado desde o último dia 24, no Hospital Proncor, da capital sul-mato-grossense, devido a uma obstrução intestinal. Segundo a assessoria do hospital, o poeta faleceu às 8h05, devido à falência múltipla de órgãos.

Conhecido pela linguagem coloquial, à qual chamava de idioleto manoelês archaico, e por buscar inspiração nos temas mais simples e banais, Barros dizia ser possível resumir sua trajetória de vida em poucas linhas. “Nasci em Cuiabá (à época, 1916, dezembro. Me criei no Pantanal de Corumbá (MS). Só dei trabalho e angústias pra meus pais.

 Morei de mendigo e pária em todos os lugares da Bolívia e do Peru. Morei nos lugares mais decadentes por gosto de imitar os lagartos e as pedras. Publiquei dez livros até hoje. Não acredito em nenhum. Me procurei a vida inteira e não me achei, pelo que fui salvo. Sou fazendeiro e criador de gado. Não fui pra sarjeta porque herdei. Gosto de ler e de ouvir música, especialmente Brahms. Estou na categoria de sofrer do moral, porque só faço poesia”, escreveu o autor.

Barros começou a esboçar seus primeiros poemas aos 13 anos de idade. Seu primeiro livro, intitulado Poemas, foi publicado em 1937, quando o autor tinha 21 anos. Pouco afeito à política partidária, chegou a integrar o Partido Comunista Brasileiro, mas por pouco tempo. Desde a década de 1950, conciliava a literatura com a gestão da fazenda que herdou dos pais.

Perfeccionista, conquistou os prêmios literários Jabuti (1989 e 2002); Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) (2004); Nestlé (1997 e 2006); Alfonso Guimarães da Biblioteca Nacional (1996) e Nacional de Literatura, concedido pelo Ministério da Cultura ao conjunto de sua obra, em 1998. Em 2000, foi agraciado com o Prêmio Academia Brasileira de Letras, pelo livro Exercício de Ser Criança.

Os governos de Mato Grosso – onde o poeta nasceu, e do Mato Grosso do Sul – onde Barros vivia, decretaram luto oficial de três dias. Em nota, o governador sul-mato-grossense, André Puccinelli, diz que a obra de Barros divulgou as belezas e as potencialidades do estado, “enriquecendo assim, a história da literatura e a cultura do local que ele escolheu para viver ao lado de sua esposa.”

Também em nota, o Ministério da Cultura lamentou a morte do poeta e manifestou solidariedade aos parentes, amigos e leitores de Barros. “Simples, de poesia delicada e repleta de seu imaginário pantaneiro, Manoel de Barros jamais será esquecido – ao contrário do que dizem estes seus versos: “Quando o mundo abandonar o meu olho. Quando o meu olho furado de beleza for esquecido pelo mundo. Que hei de fazer.”

Nas redes sociais, o diretor da Fundação Manoel de Barros, Marcos Henrique Marques, comentou que toda a equipe da instituição está triste, mas continuará a honrar e divulgar a obra do poeta. “O homem Manoel de Barros foi finito como todos nós, mas o poeta e suas obras – pautadas em seu belo sorriso, simplicidade, amor e criatividade, vão permanecer para sempre, gerações após gerações”.

Barros costumava brincar com a importância da poesia: “Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas se não desejo contar nada, faço poesia”. Trechos de seus poemas são frequentemente citados pela perspicácia e bom humor.

 Desde que foi internado, dois versos, em particular, estão sendo bastante citados na mídia e em redes sociais: “Não preciso do fim para chegar” e “Do lugar onde estou já fui embora”, ambos da obra Livro Sobre Nada, de 1996.
CORREIO DO BRASIL

TCU DETERMINA QUE GOVERNO REVISE CONTRATO SOBRE EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO NO PRÉ-SAL

A cessão onerosa é um mecanismo criado pelo governo para permitir que a Petrobras produza até 5 bilhões de barris de petróleo em algumas áreas do pré-sal
A cessão onerosa é um mecanismo criado pelo governo para permitir que a Petrobras produza até 5 bilhões de barris de petróleo em algumas áreas do pré-sal
O Tribunal de Contas da União (TCU) determinou que o governo faça uma revisão no contrato de cessão onerosa, firmado em 2010, que permite à Petrobras explorar petróleo em áreas do pré-sal. A revisão deve ser feita como condição para que seja firmado um novo contrato a fim de que a empresa seja contratada diretamente para explorar o volume excedente de petróleo nessas áreas.

- Na época da assinatura do primeiro contratos foram cedidos 5 bilhões de barris, mas agora se descobriu que a área pode ter muito mais, até 30 bilhões – disse o relator do processo, ministro José Jorge. Ele explicou que o TCU não está questionando o mérito da contratação da Petrobras para a exploração do petróleo excedente, mas quer ajustes nos contratos para definir os parâmetros tecnicamente, com as novas informações sobre as áreas produtoras.

A cessão onerosa é um mecanismo criado pelo governo para permitir que a Petrobras produza até 5 bilhões de barris de petróleo em algumas áreas do pré-sal, sem a necessidade de licitação. Em junho, o Conselho Nacional de Política Energética aprovou a contratação direta da Petrobras para produção do volume excedente ao contratado sob o regime de cessão onerosa em quatro áreas do pré-sal, Búzios, Entorno de Iara, Florim e Nordeste de Tupi.
CORREIO DO  BRASIL

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

terça-feira, 30 de setembro de 2014

"UMA BALA DE PRATA", DOCE É CLARO, A SER DISTRIBUIDA NA BOCA MALDITA ( uma bala embrulhada em papel de prata)

Cadê a bala? 
Celso Nascimento

Cadê a bala? 1O dicionário Aurélio – famoso “pai dos burros” – define a palavra bravata como um substantivo feminino com três siginificados que se completam: 1. Ameaça feita de modo arrogante; 2. Dito ou atitude de fanfarrão; 3. Pretensa valentia. Pois bem, os que, ontem à noite, ficaram de olhos e ouvidos pregados no programa do PMDB do horário eleitoral da tevê, tiveram a ocasião de confirmar o “Aurélio”: não passava de fanfarronice a ameaça que o candidato Roberto Requião fizera de disparar uma “bala de prata” com poder para fulminar o adversário Richa.

Cadê a bala? 2Coisas dantescas seriam reveladas, e de tal grau de imoralidade que se recomendava tirar os crianças da sala. E o que aconteceu? Nada, absolutamente nada. No lugar da suposta e terrível bala apareceu tão somente a figura angélica e simpática da candidata a vice, deputada Rasane Ferreira (PV), descrevendo as bondades que Requião dedica às mulheres, incluindo a própria mãe.

Cadê a bala? 3Com medo-pânico da bomba que poderia estourar, o PSDB de Richa tomou uma precaução que se revelou inútil: pôs no ar uma solene advertência do ex-governador Orlando Pessuti pedindo aos eleitores para não votar em Requião, embora seja ele do mesmo partido, o PMDB. E avisou: o que sairia no próximo segmento do horário eleitoral, de responsabilidade de Requião, seria outra falsidade das tantas que ele já proferiu para prejudicar inimigos, dentre os quais citou a si próprio e outro ex-vice-governador, Mario Pereira.

Cadê a bala? 4“Gastaram” o Pessuti? Terão de repetir sua fala no próximo programa? A “bala” virá no programa de quarta? Ou tudo não passava de mais uma bravata?

IBOPE: BETO AMPLIA VANTAGEM NA LIDERANÇA E CHEGA A 54% DOS VOTOS VÁLIDOS

Na quarta pesquisa Ibope para o Governo do Estado divulgada nesta segunda-feira (29), Beto Richa (PSDB) manteve a liderança, com 47%, e ampliou ainda mais a vantagem sobre os adversários.

 Roberto Requião (PMDB), que caiu dois pontos em relação à pesquisa anterior, agora tem 28% e está 19 pontos distante de Beto Richa. A candidata do PT, Gleisi Hoffmann, perdeu três pontos e aparece com 9%, 38 pontos longe de Beto Richa. Ogier Buch (PRP) se manteve com 1%.

Considerados apenas os votos válidos, Beto Richa chega a 54,6%, o que garante a vitória no primeiro turno. “Nesta última semana, com o apoio da grande maioria dos paranaenses, vamos trabalhar dobrado. 

Quando comparam as propostas, o trabalho e o histórico de cada candidato, os eleitores estão decidindo, cada vez mais, pelo Paraná do desenvolvimento, do diálogo e do respeito”, disse Beto.

O Ibope também apontou a rejeição dos candidatos. A maior rejeição é de Requião, que tem 23%. Gleisi Hoffmann tem 22% e Beto Richa, 16%. 

A pesquisa foi feita nos dias 28 e 29 de setembro, com 1.204 eleitores. A margem de erro é de três pontos percentuais e o nível de confiança é de 95%. A pesquisa foi contratada pela Sociedade Rádio Emissora Paranaense, com registro 42/2014 no TRE.

sábado, 27 de setembro de 2014

DILMA APLIA VANTAGEM SOBRE MARINA, DIZ DATAFOLHA

Novo Datafolha: Dilma Rousseff dobra vantagem sobre Marina Silva no primeiro turno e pela primeira vez também vence no segundo

Pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira (26) mostra a candidata do PT à reeleição, Dilma Rousseff, com 40% das intenções de voto, Marina Silva, do PSB, com 27%, e Aécio Neves, do PSDB, com 18%. A pesquisa foi encomendada pela TV Globo e pelo jornal Folha de S.Paulo.

A vantagem de Dilma sobre Marina no primeiro turno aumentou em relação à pesquisa anterior, divulgada no dia 19, na qual Dilma aparecia com 37% e Marina com 30%. Aécio estava com com 17% das intenções de voto.

No levantamento de hoje, os candidatos Pastor Everaldo, do PSC; Luciana Genro, do PSOL, e Eduardo Jorge, do PV, aparecem cada um com 1% das intenções. Os demais candidatos, Zé Maria, do PSTU; Eymael, do PSDC; Levy Fidelix, do PRTB; Mauro Iasi, do PCB; e Rui Costa Pimenta, do PCO, têm, juntos, 1%. Votos nulos ou brancos somam 5% e são 6% os indecisos.

De acordo com a pesquisa, na simulação de segundo turno entre Dilma e Marina, a candidata do PT alcançaria 47%, contra 43% da candidata do PSB, o que configura empate técnico considerada a margem de erro de 2 pontos percentuais. Na semana passada, Marina tinha 46% e Dilma, 44%.

Em uma possível disputa entre Dilma e Aécio, a petista venceria por 50% a 39%. Na semana passada, Dilma tinha 49% e Aécio, 39%.

Dilma tem 31% de rejeição; Marina, 23%; Pastor Everaldo, 22%; Aécio, 20%; Zé Maria, 17%; Levy Fidelix, 17%; Eymael, 16%; Luciana Genro, 15%; Rui Costa Pimenta, 14%; Eduardo Jorge, 13%; e Mauro Iasi, 13%.

Foram feitas 11.474 entrevistas, ontem (25) e hoje, em 402 municípios. Com margem de erro de 2 pontos percentuais (para mais ou para menos) e nível de confiança de 95%, a pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral com o número BR-00782/2014.

Agência Brasil

ESPECIAL: 25 ANOS DAS ELEIÇÕES DE 1989

Há 25 anos, o país voltava a escolher seu presidente e a política estava na rua. Eleição de 1989, conquistada quase seis anos depois das Diretas Já, e marcada por golpes baixos, encaminhou consolidação democrática em meio ao fim da Guerra Fria. Marqueteiros tinham menos presença

Eleições de 1989: Há 25 anos, o Brasil voltava a escolher seu presidente e a política estava na rua (Pragmatismo Político)

Especial. Vitor Nuzzi. Rede Brasil Atual.

Hilton Acioli vai lembrando e cantarola, “rompe a cortina do passado”, “vai lá e vê que a alegria já demorou demais”. O compositor havia recebido “duas palavrinhas” do publicitário Paulo de Tarso Santos e teve a responsabilidade de fazer um jingle. Vê o que dá para fazer, disseram a ele. “Na hora, eu não achei nada”, lembra o compositor potiguar, que completará 65 anos em outubro, na véspera da eleição, e foi componente do Trio Marayá, nos anos 1950 e 1960. “A sorte é que ficou na minha memória.” Para buscar a canção, ele conta que havia a preocupação de aproximar o “tema” do jingle ao que Hilton chama de elite popular, citando Noel Rosa, Ary Barroso, Pixinguinha: “Populares, mas ao mesmo tempo clássicos.”

De Ary veio um mote: “Abre a cortina do passado”, canta de novo. E foi assim que ele compôs um samba, no início de 1989, para apresentar aos “clientes”, no comitê de campanha, na Vila Mariana, zona sul de São Paulo. Estavam lá Ricardo Kotscho, Aloizio Mercadante, Vladimir Pomar, entre outros. O “tema” viria de Brasília para escutar, mas não foi. E Hilton cantou o samba: “Eu olhava na cara deles e pensava: a música não é esta”. De lá, saiu para papear com um amigo, o publicitário Osvaldo de Melo, a quem repetiu: acho que não é essa música. E foi para casa. “Quando acordei, me veio a música.”

E ele cantarola mais uma vez um dos jingles políticos mais marcantes de todos os tempos. “Quando você faz uma música nova, que você acredita, fica todo energizado”, diz Hilton, lembrando das origens do Lula lá, feito para a primeira campanha de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República, em 1989. A letra da música faz referência ao “primeiro voto”. A ideia era falar tanto dos jovens como de quem, de fato, iria pela primeira vez à urna para escolher o presidente.
O grito das Diretas Já ganhou as ruas do país entre 1983 e 1984. O direto de eleger o presidente viria em 1989 | Foto: Fernando Santos/Folhapress (25/1/1984)

Era a primeira eleição presidencial desde 1960. Nos momentos finais da ditadura, o Brasil voltara a escolher governadores pelo voto direto (1982) e prefeitos de capitais e parte dos municípios (1985). Passara por uma campanha nacional de restabelecimento das eleições presidenciais, o movimento das Diretas Já, em 1984, direito só reconquistado em 1989, quando foram às urnas 70 milhões de pessoas, menos da metade do eleitorado atual. Para o cientista político Paulo d’Avila Filho, a eleição de 1989 “simboliza a retomada da democracia”. Este ano, o Brasil vai para a sétima eleição presidencial seguida, uma sequência inédita no país.
Candidatos: 22

Essa retomada, de certa forma, pode ser medida pela quantidade de candidatos a presidente: 22, número que nunca mais se repetiu. Este ano, por exemplo, são 11. Se hoje há três candidatas, duas disputando o primeiro lugar, em 1989 apareceu a primeira mulher na disputa presidencial: a advogada mineira Lívia Abreu, do Partido Nacionalista (PN), que recebeu 180 mil votos, 0,25% do eleitorado. Ali apareceu pela primeira vez Enéas Carneiro, do nanico Prona (360 mil votos, 0,5%). Lanterna do primeiro turno (4 mil votos, 0,01%), Armando Corrêa, o “candidato dos explorados”, chegou a renunciar em favor do apresentador Silvio Santos, que apareceu 15 dias antes do primeiro turno, mas foi barrado pela Justiça Eleitoral.

Na política brasileira, depois da frustrada campanha das diretas, a maior parte da oposição, ao lado de ex-integrantes do governo, partiu para o voto indireto no colégio eleitoral. O governador de Minas Gerais, Tancredo Neves (PMDB), superou Paulo Maluf (PDS, partido que sucedeu a Arena, que sustentava a ditadura), e foi eleito presidente, com apoio de alguns remanescentes do antigo regime, reunidos sob o título de Nova República, que duraria pouco.

Tancredo não chegou a assumir. Foi internado na véspera da posse, em 15 de março de 1985, e morreu pouco mais de um mês depois, em 21 de abril. Sarney assumiu e, no final de governo, estava praticamente isolado. Mesmo com a esperança democrática, as tensões continuavam e os planos econômicos não davam conta de superar as altas constantes do custo de vida.

Eram tempos de inflação nas nuvens. Quase 40% ao mês, incríveis 758,79% acumulados naquele ano, até outubro (IPC) e 1.303,78% em 12 meses. Havia o dólar no mercado paralelo, ou “black”, com ágio de 100% em relação ao oficial.
O país vinha da eleição de Tancredo Neves pela via indireta, com uma morte que levou José Sarney ao poder | Foto: Célio Azevedo/Fotos Públicas

Na política, conservadores ainda assombravam a população com fantasmas, como o comunismo. Foi em 1989 que caiu o Muro de Berlim, que separava as Alemanhas (divididas em Ocidental, capitalista, e Oriental, comunista), em representação real e dramática da divisão ideológica mundial. Em 1991, a União Soviética, o outro lado da “Guerra Fria” com os Estados Unidos, deixaria de desistir. A eleição de 1989, para o conservadorismo, ainda acenava com a ameaça esquerdista “Brizula”, junção dos nomes de Brizola e Lula.

Assessor de imprensa de Lula, o jornalista Ricardo Kotscho lembra que a inserção de alguns desses fantasmas dificultou até o simples aluguel de uma casa para sediar o comitê. Um empresário amigo dele chegou a dizer que não poderia alugar um imóvel, porque com uma vitória de Lula a sua propriedade seria tomada. “Era muito difícil. O que animava era a militância. Era tudo muito improvisado. Muitos comícios… Estou cansado até hoje. E também era uma grande festa, que, para mim, pareceu uma continuação da campanha das diretas. A gente sabia que estava participando de um momento histórico.”
Palanque

Do esquema quase mambembe no primeiro turno, a estrutura melhorou um pouco no segundo, quando Lula, pelo PT, enfrentou Fernando Collor, do PRN. Até apareceu um jatinho, coisa que sobrava na campanha adversária. Subiram no palanque do petista os candidatos do PDT, Leonel Brizola, e do jovem PSDB (criado um ano antes), Mário Covas, quarto colocado no primeiro turno, com 7,8 milhões de votos. Só não estava “o doutor Ulysses”, o candidato do PMDB, Ulysses Guimarães, porque Lula não quis – e Kotscho observa que, tempos depois, o candidato do PT reconheceria ter cometido um erro político. Isso não impediu que a campanha tomasse corpo, a ponto de ninguém cravar o resultado.

Na primeira votação, em 15 de novembro, Collor teve 22,6 milhões de votos (28,52%) e Lula, 11,6 milhões (16%), em disputa acirrada com Brizola, a quem superou por apenas 500 mil votos. Na véspera do segundo turno, que seria em 17 de dezembro, as pesquisas apontavam situação de empate técnico, com tendência de ascensão do petista. Do dia 7 ao 17, segundo o instituto Datafolha, Collor foi de 50% para 47% e Lula, de 41% para 44% Parecia estar se confirmando um vaticínio do veterano Brizola, autor da expressão “sapo barbudo” para se referir a Lula, no sentido de um batráquio que seria imposto à conservadora elite brasileira.

Cada um do seu jeito, Lula e Collor representavam o “novo” naquela eleição, observa o especialista Chico Santa Rita, um dos precursores do marketing político no Brasil. Vindo da campanha de Orestes Quércia (PMDB) a governador em 1986, ele havia trabalhado com Ulysses no primeiro turno (3,2 milhões de votos) e fora convocado pelo staff de Collor, àquela altura preocupado com a possibilidade de derrota. A primeira providência foi fazer uma pesquisa qualitativa, ainda pouco comum. “O quadro era que as pessoas estavam cansadas da ditadura e do governo Sarney, que tinha uma avaliação péssima. Elas queriam o novo. Uma sensação semelhante ao que há hoje. Foram (para o segundo turno) os candidatos mais novos, um líder sindical combativo e um governador jovem, com uma proposta de acabar com os escândalos, os marajás.”

Ele assumiu quase em momento de emergência, com a equipe anterior demitida. “O que eu diagnostiquei? Tinha um discurso (no primeiro turno) muito forte na moralização da administração pública. Não sei se estavam cansados… O programa foi ficando fraco, com mais brincadeirinha, pessoas ficavam coloridas. O que eu fiz foi retomar o discurso político com muita força.”
Fantasia

Chico Santa Rita acredita que há deformações e falta de entendimento em relação ao trabalho do marketing político. “O pessoal acha que é propaganda. É uma atividade multifacetada, que inclui elementos da propaganda, do jornalismo, da pesquisa, de relações públicas. Tem uma complexidade. Não é feito para criar o candidato, mas para para melhorar o desempenho do candidato. Todas as vezes que eu vi fazerem isso, não deu certo.” Ele também critica programas atuais, citando tanto PT como PSDB. “Usam e abusam de uma distorção da verdade, mostrando um país que parece de fantasia. Está havendo exagero. O marketing político foi feito para dinamizar a discussão política.”
Surgido com pinta de bom moço, Collor acabou vitorioso após um segundo turno marcado por acusações e atritos (Foto: Chico Ferreira/Folhapress)

Em seu livro Batalhas Eleitorais, Chico relata episódios que, de certa forma, mostram que a campanha teve momentos que estiveram bem longe do debate político. A uma semana da votação, ele recebeu das mãos de Collor um vídeo com imagens de um fuzilamento de três prisioneiros – Lula aparecia olhando e até sorrindo, ao final. Sem acreditar, reviu e depois chamou o engenheiro que prestava assistência técnica. A resposta foi clara: “Trata-se de uma montagem. A imagem de Lula foi superposta na imagem básica do fuzilamento”. O vídeo não foi ao ar.

Além disso, havia a constante menção ao “comunismo” como ameaça e um suposto “derramamento de sangue”, como chegou a dizer Collor, que o PT promoveria para chegar ao poder. “O Lula nunca deixou responder no mesmo nível. Ele nunca aceitou o vale-tudo”, diz Kotscho. Para ele, o uso do marketing político surgiu com Collor, que contava com grande estrutura de campanha. “No nosso caso, era um grande mutirão. Tinha muitos voluntários. E todo mundo dava palpite. Era mais amador, mais coletivo.”

Kotscho viajava com Lula, escrevia o texto com o dia do candidato e, por telefone ou telex – não existia internet – mandava o material para o também jornalista Sérgio Canova, que repassava para as redações. Para ganhar tempo, marcava entrevistas coletivas nos aeroportos. Em uma dessas paradas, em Maceió, estranhou não ver ninguém para entrevistar o líder petista. “Aqui tudo é do homem”, foi a explicação que recebeu do coordenador local. O “homem” era Collor, dono de grande parte dos meios de comunicação de Alagoas.

O final da história é conhecido. Com 35 milhões de votos (53% dos válidos), Collor foi eleito. Lula recebeu 31 milhões (47%). Em 1992, o presidente sofreu impeachment e o vice, Itamar Franco, assumiu.
Após primeiro turno apertado, Lula recebeu apoio de candidatos de esquerda e esteve próximo de vencer Collor (Foto: Niels Andreas/Folhapress)

“Marqueteiro” de Lula em 1989, o publicitário Paulo de Tarso Santos considera “paradigmática” aquela eleição. Lembra que, em 1982, ainda estava em vigor a Lei Falcão (Lei 6.339, de 1976, que ganhou o nome do então ministro da Justiça, Armando Falcão). Na prática, o texto proibia qualquer campanha eleitoral. Só era permitido divulgar legenda, currículo e número do candidato – na TV, também a foto. Ninguém podia falar, algo no estilo “nada a declarar”, frase que se tornou associada ao ministro da Justiça do governo Geisel (1974-1979). A lei foi revogada em 1984. A campanha de 1985, para a prefeitura de São Paulo, já trouxe a experiência do slogan ‘Experimente Suplicy”, “já tentando um uso criativo do programa eleitoral.”
‘Radicalizar a esquerda’

Em 1989, o objetivo era “radicalizar a esquerda”, conta Paulo de Tarso. “O início do raciocínio – eu, Carlos Azevedo e Zé Américo – foi muito simples. Tínhamos 22 candidatos, e de 25% a 30% do eleitorado se dizia de esquerda. Queríamos falar direto com o pensamento progressista. Tinha várias peças de jornalismo mostrando a desigualdade no Brasil. Era uma campanha bem política, com menos propaganda.” Porém a campanha precisava de uma “embalagem”. Em uma reunião em sua casa, surgiu a ideia da Rede Povo, programa que marcou a campanha – e qualquer semelhança com uma emissora de televisão não é coincidência. “Eu até brincava: se é para pegar o inimigo, vamos pegar o inimigo de verdade.”

Para a campanha no segundo turno, Paulo de Tarso diz que havia a ideia de construir um “Lulinha paz e amor”, como se falaria em 2002, quando o petista enfim chegou à Presidência da República. “Mas não deu tempo. Começaram contra nós uma campanha anticomunista”, afirma o publicitário, para quem a campanha na TV foi vitoriosa.

Ele também faz ressalva ao trabalho do marketing político. “O Lula falava de improviso. A gente passava o tema do programa, ele estudava e traduzia, e a gente ia aprimorando juntos no estúdio, sugerindo coisas que ele encaixava ou não. A gente sempre privilegiou a autenticidade dele. Não tinha todo esse arsenal de monitoramento que tem hoje.” Para Paulo de Tarso, o que deve prevalecer é a intuição do político. “As pesquisas são um instrumento para você ter uma medida da opinião pública, para você não bater o prego com os dedos.”

A paternidade da expressão “Lula lá” ainda causa alguma polêmica. Alguns a atribuem ao publicitário Carlito Maia, outros, inclusive ele próprio, a Paulo de Tarso, que passou a encomenda do jingle a Hilton Acioli. Ele conta que, além de não gostar de trocadilho, achava o tema fraco, preferindo algo mais no estilo “povo no poder”. “A gente não tinha a menor noção. Tinha certeza de que a gente ia levar o maior cacete. Foi um fato político gigantesco.”

Para Paulo d’Avila, o que mudou em relação a 1989, basicamente, foi o perfil do eleitorado, à medida que as eleições foram se tornando rotineiras. “O que a literatura mostra é que o eleitorado vai se comportando mais para uma curva normal, o que leva os competidores a uma posição mais conservadora”, analisa. Naquele ano, acrescenta o cientista político, havia “grande massa com expectativas mais à esquerda e mais à direita”, o que permitia maior polarização.

De um lado havia Brizola, Roberto Freire (PCB), Lula e, de certa forma, até Covas disputando um naco de centro-esquerda. “O eleitorado desejava o novo. Quem se destaca naquela eleição? O discurso mais à esquerda, Lula/Brizola”, diz o professor.

Na outro lado, candidatos como Guilherme Afif e Collor. “Havia um eleitorado disposto a consumir as expectativas mais polarizadas. Quanto mais você consolida o procedimento (eleição), mais o eleitorado vai se acomodando. Você passa a disputar o centro.” Ele identifica um processo de “mediocrização” do processo político – “No sentido exato do termo, do médio.”

D’Avila também destaca a relevância que o marketing político ganha naquele eleição. “Nós nos redemocratizávamos numa sociedade da comunicação, principalmente com a televisão. O Collor foi incrivelmente fiel à persona que criaram para ele.”
Romantismo

A uma indagação se havia mais espontaneidade naquela campanha, o cientista político acredita que existe certo “romantismo” em relação a isso. “Espontaneísmo serve para disputar posições”, diz d’Avila. Falando sobre as campanhas atuais, ele acredita não ser possível a um candidato em condições de vencer dizer o que pensa, mas o que é necessário ser dito. “Não significa mentir, mas ajustar o discurso”. O eleitor vai se identificando com os candidatos e há o processo de acomodação. “Aquele espectro de 1989 não desapareceu, vai sendo incorporado a coalizões de governo.”
Debate entre Collor e Lula no SBT; na época, edições eram permitidas. ‘Jornal Nacional’ abusaria do recurso | Foto: Vidal Cavalcante/Folhapress (dez/1989)

As mudanças podem ser constatadas também nos debates televisivos. Em 1989, os embates eram frequentes e, por vezes, ríspidos. Ficou célebre, por exemplo, um bate-boca entre Brizola, o “desequilibrado”, e Maluf, o “filhote da ditadura”. Para Paulo d’Avila, as regras atuais engessaram o debate em um cenário “duplamente engessado”, em relação aos temas. “Em 1989, saindo de uma ditadura, os candidatos falavam mais de Estado. Hoje, seria impensável… Lembro de uma discussão entre Lula e Roberto Freire sobre a relação de seus partidos com a OIT (Organização Internacional do Trabalho). O formato (do debate) acho que nem é o principal problema. Antes, tinha pouca regra porque não havia debate.”

E há também a “qualidade dos quadros”. Kotscho concorda com esse último item: “Os personagens políticos eram diferentes. Empobreceu muito o debate, não é só questão de regra”. Além de identificar queda na audiência da TV, o jornalista vê pessoas se xingando nas redes sociais e falta de grandes comícios. “Enquanto não houver reforma política, não vai mudar nada.”

Eles também coincidem, em certa medida, na análise sobre o comportamento da mídia. “Varia de uma eleição para outra. Foi muito difícil em 1989. Nunca vi algo tão escrachado como agora”, diz Kotscho. “Não disfarçam mais. Não estão tendo pudor.” Assim, segundo ele, depois de abraçar inicialmente a candidatura de Aécio Neves (PSDB), os principais meios de comunicação passaram a fazer campanha aberta para Marina Silva (PSB). E, obviamente, passa pelo rol de polêmicas daquele ano a edição, pelo Jornal Nacional, do debate no segundo turno. No livro Do Golpe ao Planalto, Kotscho resume desta maneira: “Editaram só os melhores momentos de Collor e os piores de Lula. O resultado do jogo, que tinha sido 2 x1 na edição do Hoje (telejornal vespertino), transformou-se magicamente em 10 x 0″.
Imparcialidade?

“Em 89, ainda que se possa dizer que havia uma preferência eleitoral, ainda havia uma enorme preocupação de dizer que não. Hoje, acho que são muito mais explícitas as posições dos meios de comunicação em relação a suas preferências”, comenta Paulo d’Avila. “Hoje caminha (o jornalismo) para um tipo de cobertura que explicita cada vez mais a sua preferência.” Para ele, “a fantasia da imparcialidade habita os bancos escolares do Jornalismo e do Direito”. Ele costuma dizer aos alunos que, quem quiser, sabe onde é possível encontrar notícias pró e contra o governo, mas acredita que a situação melhoraria em um ambiente de maior competitividade nos meios de comunicação.



Ainda sob o efeito do ato de artistas a favor de Dilma, no dia 15, no Rio de Janeiro, o ator Sérgio Mamberti destaca o discurso de Lula sobre o “marco civil” da mídia e acrescenta: “Eu falo isso desde 89″. Para ele, a mídia constitui hoje um campo de dominação e deixa o consumidor de notícia “praticamente subordinado ao interesse dessas grandes corporações”.

Naquela campanha, marcada por intensa participação do mundo artístico, política e cultura estavam no mesmo campo, avalia Mamberti. “A política é uma dimensão da cultura”, diz o ator, estendendo o raciocínio à questão da educação, que, para ele, não pode ser isolada, sob risco de cair na tecnocracia. “O centro do governo tem de entender que a dimensão da cultura oferece uma oportunidade de reflexão. As transformações se dão no campo da cultura, no campo das ideias.”

Ele lamenta que tenha havido, no Brasil, uma desqualificação do processo político, especialmente após o episódio conhecido como mensalão. “Não que não foram cometidos erros, mas o processo (a ação) foi tendencioso. A sociedade ainda vai ter de se apropriar da verdade. A reforma política passa a ser um tema absolutamente contemporâneo”, diz Mamberti.

O ator também faz ressalvas ao tratamento que é dado hoje aos candidatos, por meio do marketing político. “Eu diria que o marqueteiro tem uma hegemonia que distancia o candidato de uma discussão política mais profunda. Acho que a gente tinha de ter um aperfeiçoamento técnico do ponto de vista da comunicação, mas, de repente, houve uma inversão de papéis, a embalagem se colocou acima da política.”

Também desse ponto de vista, 1989 foi emblemático. “Embora houvesse os marqueteiros, nós todos participávamos, dávamos contribuições. A gente podia fazer sugestões, que eram aceitas. Hoje, não existe mais esse espaço criativo de um Henfil e de um Carlito Maia. Essa dimensão cultural se expressava plenamente em todas as formas que a gente foi construindo de uma visão coletiva.”

Para Mamberti, 1989 representou o momento final de saída do regime autoritário. “A gente tinha certeza de que ia começar um novo momento na história do Brasil.” Ele espera que haja continuidade nessa direção. “A participação social seria a forma de legitimar a construção de políticas públicas. Para aprofundar e radicalizar esse processo democrático, não basta que as pessoas tenham ascensão econômica”, observa o ator.

Hilton Acioli destaca a “efervescência” daquele momento político. “Desde 1984, na campanha das diretas, já tinha muita gente envolvida.” E é por isso que as músicas permanecem, acredita o compositor. “Ficou com o cheiro daquele tempo.”

ESTRUPO COLETIVO EM QUEIMADAS: MENTOR É CONDENADO A 108 ANOS DE PRISÃO

Após 19h de julgamento, mentor do estupro coletivo de Queimadas, caso que chocou o Brasil e teve repercussão mundial, é condenado a um total 108 anos de prisão


Eduardo dos Santos Pereira, mentor do estupro coletivo de Queimadas (Foto: Jornal Correio da Paraíba)

O réu Eduardo dos Santos Pereira, acusado de ser o mentor do estupro coletivo que ficou conhecido como “Caso Queimadas”, em 2012, foi condenado a um total de 108 anos de prisão. O julgamento durou cerca de 19 horas e foi realizado no Fórum Criminal de João Pessoa. O júri popular começou na tarde dessa quinta-feira (25) e se encerrou na manhã da sexta-feira (26).

O Conselho de Sentença composto por quatro homens e três mulheres se reuniu por volta das 5h20 desta sexta-feira (26) e saiu da sala cerca de três horas depois. O Juiz Antônio Maroja Limeira Filho leu a sentença que apontou o réu como culpado. São 106 anos e 5 meses por homicídio, formação de quadrilha, cárcere privado e corrupção de menores e porte ilegal de arma e mais um 1 ano e 10 por lesão corporal.
O caso

Em pleno carnaval, cinco mulheres foram atraídas para um aniversário, que se transformou, numa cena de cri­me bárbaro de estupro e assassinato de duas mulheres (relembre aqui), Isabela Pajuçara e Mi­chelle Domingos. O crime foi minucio­samente planejado por 10 homens, en­tre eles três menores de idade, o que chocou e ainda choca a população bra­sileira e mundial. O caso ocorreu em 12 de fevereiro de 2012.
Justiça

Pedir justiça foi o lema das famílias das vítimas e de todos os movimentos sociais feministas e de mulheres da Pa­raíba que se reuniram para protestar contra o machismo e a misoginia que ainda resistem na socie­dade brasileira.


Manifestações pediram justiça e o fim da violência contra a mulher (divulgação)

“Diante da dimensão de desumanida­de e dos detalhes frios, cruéis e selvagens que envolveram este dia de violência pe­dimos a condenação máxima do acusa­do”, declarou Lourdes Meira, militante da União Brasileira de Mulheres.

A justificativa do crime: presente de aniversário para Luciano dos Santos Pe­reira (44). O mentor do crime foi o irmão de Luciano, Eduardo dos Santos Pereira, que era ex-cunhado de Isabela Pajuçara, uma das mulheres assassinadas.

Muita pressão foi feita e organiza­da nas ruas pedindo justiça, a CPMI da Violência contra a Mulher visitou a Pa­raíba e diagnosticou a situação de vulne­rabilidade das mulheres em Queimadas e em seu entorno. Mas a indignação ain­da continua.

Isabela Pajuçara e Mi­chelle Domingos, assassinadas no estupro coletivo de Queimadas (divulgação)

“A objetificação das mulheres é susten­tada na sociedade capitalista, machista, racista e patriarcal que vivemos. Diaria­mente as mulheres são violentadas pelo Estado e pela sociedade, mulheres mor­rem pela sua condição de ser mulher”, afirma Aylla Milanez, militante da Arti­culação de Mulheres Brasileiras.
Condenados

Luciano dos Santos Pereira, Fernando de França Silva Júnior, Jacó Sousa, Luan Barbosa Cassimiro, José Jardel Sousa Araújo e Diego Rêgo Domingues – foram condenados em 2012 pelos crimes de cárcere privado, formação de quadrilha e estupro (relembre aqui). Eles cumprem penas entre 26 e 44 anos de prisão em regime fechado no presídio de Segurança Máxima PB1, em João Pessoa. Suas penas, somadas, chegam a 184 anos de prisão.

com informações de Brasil de Fato e Portal Correio

A MARCHA DOS 400 MIL EM NOVA YORK

Marcha dos 400 mil ficou conhecida como a maior da história na luta por políticas mais atentas às mudanças climáticas

Marcha dos 400 mil em Nova York foi a maior da história da cidade (divulgação)

Thiago Gabriel, Revista Vaidapé

Às 9h30 da manhã, pessoas das mais diversas nacionalidades já se agrupavam em frente ao Central Park. Cartazes variados coloriam o horizonte de prédios das ruas fechadas pela polícia para o evento. A People’s Climate March já vem sendo convocada há meses e levou aproximadamente 400 mil pessoas às ruas no último domingo (21) para exigir mudanças nas políticas adotadas ao meio ambiente.

O evento é parte da Climate Justice Alliance, movimento que organiza diversas ações diretas não-violentas durante a semana em que a cúpula climática da ONU reúne-se na cidade. O objetivo é pressionar os líderes mundiais a tomarem atitudes mais claras e incisivas para tratar a saúde do planeta. Com a presença dos governantes na cidade, a marcha chamou atenção da imprensa, que também compareceu em peso.

As ruas pareciam uma torre de Babel, composta por inúmeras línguas e nacionalidades, refletindo fielmente o complexo ecossistema urbano da cidade. Manifestações culturais locais deram o tom da caminhada. Grupos indígenas – os mais afetados pela crise climática – reproduziram uma espécie de ritual tradicional em volta de um totem de papelão. Um grupo meditava no Central Park. Chineses, peruanos, filipinos, costa-riquenhos, sul-africanos, argentinos caminhavam juntos por políticas econômicas menos danosas ao meio ambiente.

Com crachás de imprensa, convidados VIPs, seguranças voluntários da própria organização, telões e percurso combinado, o acontecimento foi a cara dos eventos norte-americanos: organizado para ser grande e ocorrer com tudo nos conformes.

Quando começou a andar, a agitação geral do público transmitia um ar emocionante e comemorativo para a marcha. Não havia raiva ou indignação, apenas a vontade de mudanças, tentando representá-las através dos gritos e cartazes. A polícia acompanhou todo o trajeto; parou o trânsito, impediu que manifestantes ultrapassassem as grades de segurança e manteve-se como observadora do evento.

Ao chegar na famosa Times Square, o ato era aguardado por centenas de turistas que preparavam suas câmeras para capturar a melhor imagem. Contidas pelas grades policiais pareciam aguardar a passagem do tapete vermelho de uma premiação.

Depois de percorrer mais de 30 quadras, a marcha chegou ao fim na 11a avenida, onde lhe aguardavam tendas, panfletos e uma organização impecável. De forma um tanto quanto melancólica, muitos saíam de lá sem saber exatamente o que havia acontecido, e porque estavam lá daquela forma. Mesmo assim, o clima era de felicidade. Sorrisos de pessoas de todas as idades, etnias, nacionalidades e culturas juntavam-se em um acontecimento histórico por um planeta que é de todos.

                             Foto da marcha passando ao lado do central park:

CUBA ENVIA MAIS 296 MÉDICOS PARA COMBATER EBOLA NA ÁFRICA

 Cuba vai enviar mais 296 profissionais de saúde à Àfrica; total chega a 461. Há duas semanas, havia anunciado a ida de 165 médicos e enfermeiros


Cuba vai enviar mais 296 médicos e enfermeiros para as regiões afetadas pela epidemia do vírus ebola na África Ocidental. O anúncio foi feito nesta sexta-feira (26/09) em Havana e os eles vão se somar aos 165 já anunciados no dia 12 de setembro. Com eles, a ilha mandará, no total, 461 profissionais de saúde.

Segundo o governo cubano, desde o dia 15 de setembro todos eles vêm sendo preparados por meio de um “curso intensivo” de teoria e prática sobre como lidar com a doença. Ainda de acordo com Havana, 15 mil profissionais da ilha se ofereceram para ir à região.

O último relatório da OMS (Organização Mundial da Saúde) aponta que o ebola já matou quase 3.000 pessoas na África Ocidental, mas o surto vem se estabilizando na Guiné.

Até 21 de setembro, 2.917 pessoas morreram de ebola dentre 6.263 casos em cinco países do oeste africano. Os dados não incluem os casos recentes descobertos após o toque de recolher em Serra Leoa. Os dados da entidade indicam que a proporção de novos casos nos últimos 21 dias diminuiu, o que sugere que a difusão da doença pode estar desacelerando.
Falta de recursos

De acordo com a OMS, faltam 1.550 leitos para tratamento na Libéria e, até o momento, ninguém ainda se comprometeu a oferecer. Em Serra Leoa, apesar dos 297 novos leitos planejados que quase dobrariam a capacidade existente, ainda são necessárias mais 532 camas.

Além disso, a taxa de mortalidade de profissionais de saúde é alta. Uma contagem mostrou que 81 morreram em Serra Leoa entre 83 que contraíram a doença – uma taxa de morte de 72%.

O governo de Serra Leoa colocou três distritos e 12 localidades de quarentena, o que representa 1,2 milhão de pessoas. Este é o maior confinamento no oeste da África desde o surgimento da atual epidemia de ebola.

Opera Mundi

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

PAPÉIS QUE SÃO PROVAS DO CAIXA 2 DE REQUIÃO ESTÃO SENDO ENTREGUES PARA O MINISTÉRIO PÚBLICO

Doático vai ao MP apresentar papéis do Caixa 2 de Requião

Hoje (sexta-feira, 26) a Gazeta do Povo adianta que o secretário-geral do PMDB de Curitiba, Doático Santos, recebeu um dossiê com 37 páginas de documentos e movimentações da contabilidade do senador Roberto Requião (PMDB). 

"Sem revelar nomes, Doá­­tico disse que a documentação foi entregue no comitê da Frente Ampla, que funciona no Centro de Curitiba. Ele afirmou ter consultado amigos peritos que teriam atestado a veracidade dos papéis. A ideia do grupo é coletar assinaturas para a notícia-crime em um ato amanhã de manhã na Boca Maldita, para protocolá-la no MP na segunda-feira", escreve Euclides Lucas Garcia.

"Liderada por Doático Santos, ex-aliado de Requião, a Frente Ampla Paraná Total diz ter tido acesso a 37 folhas de papel com anotações e recibos pessoais do senador. Na internet, o grupo afirma que os documentos foram encontrados em um cofre no Palácio das Araucárias em 2010, ano em que Requião renunciou para disputar a eleição para o Senado", diz a matéria.

MAIS UM CASO DE PEDOFILIA ATINGE A CAMPANHA DA CANDIDATA AO GOVERNO DO PARANÁ

Outro crime de pedofilia

O caso Eduardo Gaievski, o ex-assessor da ministra Gleisi Hofmann acusado e já condenado em um dos mais de 30 crimes de pedofilia e estupro de vulnerável na cidade de Realeza, não é o único do tipo a bater a porta de Gleisi Hoffmann (PT) no Paraná. 

Um vídeo disponível no YouTube desde 2010 mostra que outro crime desta natureza atingiu um importante membro do partido no interior do estado. 

Neste caso, assim como no de Eduardo Gaievski, o PT do Paraná não tomou nenhuma providência para expulsão do acusado. 

O caso em questão envolve o ex-presidente do PT de Irati, Almir Moletta, que foi acuso e preso em flagrante por estupro de vulnerável.

 Durante o caso, o PT estadual foi presidido por Gleisi e depois pelo atual presidente, Ênio Verri, que não expulsaram Moletta do partido, que chegou a concorrer em eleições de vereador pelo PT.

Em consulta ao registro de filiação do TSE, pode-se verificar que tanto Gaievski quanto Moletta continuam regularmente filiados ao PT do Paraná, mesmo após a prisão e condenação.




























segunda-feira, 15 de setembro de 2014

RICHA LIDERA E VENCE NO PRIMEIRO TURNO APONTA, PESQUISA RADAR/BEM PARANÁ

O governador Beto Richa (PSDB) lidera mais uma pesquisa. Levantamento do instituto Radar, encomendado pelo jornal Bem Paraná, mostra Richa com 46% das intenções de voto se as eleições fossem hoje.

 O senador Roberto Requião (PMDB) aparece em segundo lugar, com 28%, seguido da senadora Gleisi Hoffmann (PT), com 14% na pesquisa estimulada. As informações são do Portal Bem Paraná. 

O instituto Radar entrevistou 1199 eleitores em 45 municípios do Paraná, entre os dias 09 e 13 de setembro. A margem de erro de 2,9 pontos percentuais para mais ou menos. O nível de confiança é de 95,5%. O registro da pesquisa no Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) é PR-00034/2014. A pesquisa foi contratada pelo Portal Bem Paraná ao custo de R$ 48,5 mil. 

A pesquisa completa, com simulação de segundo turno em três cenários, além da pesquisa ao Senado estará disponível na edição desta segunda-feira do jornal Bem Paraná.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

MARCO AURÉLIO GARCIA : ''BRASIL E ISRAEL VÃO MANTER LAÇOS HISTÓRICOS ''


O assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, considerou encerrada a questão das declarações do porta-voz da Chancelaria israelense, Yigal Palmor sobre o Brasil, que, recentemente, qualificou o país de "anão diplomático", depois que o presidente israelense, Reuven Rivlin, pediu desculpas; “Ficou claro que há disposição dos dois governos de manter uma relação histórica”, disse

Paulo Victor Chagas – Repórter da Agência Brasil 

O assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, considerou encerrada a questão das declarações do porta-voz da Chancelaria israelense, Yigal Palmor sobre o Brasil, que, recentemente, qualificou o país de "anão diplomático". Ontem (11), o novo presidente de Israel, Reuven Rivlin, telefonou a Dilma e se desculpou pelas palavras do porta-voz.

De acordo com Marco Aurélio, a conversa foi “simpática” e os dois presidentes puderam expor as suas razões. “No mais, concretamente, ficou claro que há disposição dos dois governos de manter uma relação histórica”, disse.

As declarações do israelense foram dadas no fim do mês passado, quando o governo brasileiro convocou o embaixador em Tel Aviv para consultas e publicou notas considerando inaceitável a escalada da violência entre Israel e Palestina.

 De acordo com Marco Aurélio, a posição do Brasil sobre o assunto continua a mesma. “Não podia mudar, foi a posição do governo brasileiro que suscitou aquela reação, digamos, um pouco destemperada, mas nós consideramos que este é um assunto encerrado, deste ponto de vista.”

O assessor internacional da Presidência disse acreditar que a presidenta Dilma Rousseff não irá à próxima reunião da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) por causa do período eleitoral. O encontro está marcado para o próximo fim de semana em Montevidéu. Marco Aurélio ressaltou, porém, que o o assunto ainda não está definido.

“Não há nenhum problema, todos os presidentes presentes lá [na capital uruguaia] vão compreender concretamente que estando em uma fase decisiva da campanha eleitoral, é normal. Isso já aconteceu com outros presidentes em campanha, ou até por outras razões, que não estiveram presentes [a reuniões de cúpula]”, afirmou.

HENRY SOBEL: ''NETANYAHU FAZ MAL PARA ISRAEL"

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Rabino Henry Sobel critica a posição do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu no conflito em Gaza e diz não concordar em assistir passivamente a morte dos civis: "É preciso negociar, negociar. 
Uma criança não é palestina ou israelense. Uma criança é uma criança"; coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo, Oded Grajew também cobra responsabilidade de Israel no massacre.
 O rabino Henry Sobel, em documentário exibido pela TV Cultura, criticou a posição de Israel no conflito em Gaza e a falta de diálogo: "O Oriente Médio precisa é acabar com o fundamentalismo, o pensamento religioso radical que está predominando na região. É preciso negociar, negociar. Uma criança não é palestina ou israelense. Uma criança é uma criança".
Ele afirma que o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu faz mal para Israel. “Mas felizmente o Estado é maior do que sua pessoa, não podemos confundir o Estado com o governo."
Afirma não concordar em assistir passivamente a morte dos civis em Gaza. Os ataques vitimaram quase 1.900 pessoas em Gaza. Por outro lado, afirma que o exército israelense tem o direito de se defender dos foguetes do Hamas. “Pode até se questionar a dimensão desta defesa, mas o direito a ela não pode ser questionado", diz.
Ele também critica a presidente Dilma Rousseff por não ter expressado também sua posição sobre os ataques terroristas do Hamas." "O Hamas tem falhado, o governo de Israel tem falhado e o Itamaraty falhou", concluiu (leia aqui na coluna de Mônica Bergamo).
Coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo e presidente emérito do Instituto Ethos e idealizador do Fórum Social Mundial, Oded Grajew também cobra responsabilidade de Israel no massacre. Leia aqui:
A responsabilidade de Israel
Nasci em Tel Aviv em 1944, de mãe e pai judeus, cuja família foi praticamente exterminada pelos nazistas. Vivo há anos no Brasil, país que deveria ser valorizado pelo exemplo de convivência harmoniosa, não só entre árabes e judeus, mas entre comunidades de diversas origens religiosas e nacionais.
Nos primeiros anos do Estado de Israel (criado em 1948), os kibutzim –cooperativas onde ninguém acumula bens pessoais e todos compartilham da mesma forma os deveres e os benefícios da comunidade e tudo é decidido coletivamente– foram a base da atividade econômica nos territórios do novo país.
Lembro-me que a vida era difícil, mas havia um enorme espírito de solidariedade entre as pessoas e as famílias. Meus pais dividiam um pequeno apartamento (onde nasci) com um casal de amigos e sempre me falaram que foram os anos mais felizes de suas vidas. Foi uma infância muito feliz para mim também.
Hoje Israel tem uma economia capitalista que gerou muita riqueza (o país tem uma das maiores renda per capita do mundo), mas, ao mesmo tempo, muita desigualdade. A competição passou a ser a cultura dominante e os poucos kibutzim que sobraram são compostos basicamente por pessoas que escolheram um modo de vida mais solidário e menos materialista.
Um dos meus maiores sonhos é presenciar a paz entre Israel, os palestinos e os países árabes. Infelizmente o novo conflito, de trágicas consequências humanas, torna esse sonho ainda distante. De novo, cada lado joga a culpa no outro. Todos são responsáveis, mas considero que a responsabilidade de Israel é maior, não por querer questionar as inúmeras justificativas que usa para defender suas ações, mas pelo fato de ser o mais forte.
Israel é de longe o país mais forte militarmente e economicamente da região e tem como aliado incondicional os Estados Unidos, a maior potência mundial. O mais forte, em qualquer circunstância, deveria ter maior responsabilidade.
A contrapartida do poder é a responsabilidade. É assim com os adultos que deveriam ter muita responsabilidade com as crianças (suas e dos outros), os ricos em relação às pessoas mais pobres e carentes, a sociedade em relação aos idosos, os países prósperos e fortes em relação aos mais vulneráveis, os políticos com seu povo. É dessa forma que se pratica a solidariedade, a justiça e os mandamentos do judaísmo, cristianismo e islamismo.
O mais forte deveria ser exemplar, servir de referência e ser o mais solidário, ousado e generoso. O mais forte, em nenhuma circunstância, deveria usar a sua força para agredir e destruir o mais fraco, mesmo quando agredido. Não quero entrar na discussão interminável e inútil de quem tem mais razão. A que tem servido a lógica do olho por olho, reagir à violência com mais violência? Apenas para alimentar o ódio, gerar matanças e inviabilizar a paz.
Israel, o país mais poderoso da região, poderia recuperar os ideais e o espírito de solidariedade e generosidade de seus primeiros anos. Assim teria a grandeza de quebrar o inútil ciclo da violência e não usar toda a sua força e seu poder para matar e destruir, mas para se empenhar tenazmente, para perseguir até obter a paz na região.

APREENSÃO DE COCAÍNA E MATERIAS EXPLOSIVOS


(foto: Divulgação/RONE)

Por meio de denúncias anônimas oriundas do telefone 181 - Narcodenúncia, equipes da Rondas Ostensivas de Naturezas Especiais (RONE), pertencente ao Batalhão de Operações Especiais (BOPE), apreenderam materiais explosivos em uma casa na madrugada desta segunda-feira (11), no município de Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Dois rapazes de 19 anos foram presos com os materiais e uma porção de cocaína.

Segundo o tenente Marcelo Henrique Hoiser, os policiais militares receberam informações de que estaria acontecendo tráfico de drogas em uma rua do bairro São Gabriel. “Fomos até o local e avistamos um adolescente, que foi abordado. Ele nos indicou que o homem suspeito morava na casa do meio do terreno. Entramos e localizamos dois homens, e realizamos uma vistoria, encontrando embaixo da residência várias pedras de cocaína e uma balança de precisão”, disse o tenente.

Ao todo, os policiais encontraram na casa dois cartuchos de emulsão explosiva, 1,8 metros de cordel detonante e mais 62 gramas de cocaína (divididos em pedras de vários tamanhos). Os dois suspeitos foram presos e encaminhados até a delegacia do Alto Maracanã, para que os procedimentos cabíveis fossem tomadas.

quinta-feira, 31 de julho de 2014

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS E DEVERES DE AMAR

André J. Gomes, Revista Bula

"Então um dia o mundo, ocupado com o que realmente importa, num momento de divina iluminação, há de reunir sem maior espalhafato não uma comissão de notáveis das ciências e da política, nem um séquito de respeitosos acadêmicos e pensadores superdotados, mas uma turma desprendida, formada por pessoas de modos simples, representando diferentes origens, profissões, faixas etárias e níveis sociais variados. Entre essa gente, nada além de dois ou três interesses comuns, coisas como a inutilidade das conversas à toa, a profundidade dos assuntos desconhecidos e, claro, a alegria incomparável de dar e receber amor.

A esse grupo se daria o nome de Assembleia Geral das Mãos Unidas, ou, quem sabe, Encontro Internacional das Almas Simples, e seus integrantes se reuniriam sem a menor pretensão de deliberar e votar e construir graves e definitivas considerações a respeito das coisas universais, mas tão somente para comer e beber e falar de suas lembranças e de seus sonhos.

Conversariam sobre os perfumes inconfundíveis de seus avós, a importância de seus pais e de seus filhos e seus amigos. Abririam parênteses e aspas sobre seus pequenos feitos históricos, suas saudades e seus projetos. Fariam largas digressões sobre suas intenções sagradas, suas ternuras descobertas e seu dia depois do outro. Essas pessoas se encontrariam para nada senão para falar de seu gosto pela vida e celebrar o milagre, o mistério, a alegria e a graça divinas de estarem vivas.

De seu encontro à toa, realizado numa tarde qualquer de uma semana esquecida no calendário, sem grandes feriados ou comemorações relevantes, essa gente proclamaria, com a despretensão suprema dos desavisados de consciência limpa e coração saudável, a Declaração Universal dos Direitos e Deveres de Amar.

Seu artigo primeiro e único diria, com deliciosas delongas e rodeios inspirados, que a vida é boa demais para quem descobre o óbvio: o amor borbulha em todo lugar, de toda ordem, a qualquer tempo, e atinge em cheio todo e qualquer ser sensível. Mulheres, homens, cachorros, elefantes, passarinhos, baleias-cachalote. O amor está para além de qualquer convenção.

Entre mordidas em pães doces e longos goles de suas bebidas favoritas, nossos humildes representantes constatariam que há quem ame o que não se compreende e quem não compreenda o amor. É compreensível. Para uns, amar é deixar os sentimentos livres, abrir as gaiolas, soltar as coleiras. Para outros, é manter tudo em casa, por perto. Para fulano é não ter regras, para beltrano é manter as rédeas. E para sicrano? Para ele o amor ainda não chegou. Isso também acontece. Mas uma coisa é certa, diriam nossos declaradores: o amor não tem manual de instruções. No entanto, ainda assim, amar implica direitos e deveres.

Nossos embaixadores anotariam emocionados, em grandes folhas de cartolina ou em largas paredes brancas, que no amor, assim como em tudo na vida, os direitos e os deveres são almas gêmeas inseparáveis, amantes encantados que jamais se largam, um não existe sem o outro. E quando se separam já não há mais amor, mas qualquer sentimento distinto, tacanho e farsante.

Nos seus escritos, lá estaria em letras inconfundíveis: a quem ama, é dever olhar o outro assim como a si mesmo, com ternura e afeto e generosa confiança. É seu direito declarar amor a qualquer tempo, tanto quanto se lhe assegura o benefício de ficar em silêncio absoluto de quando em vez, de se trancar em si mesmo quando bem queira. Como um segurança de banco se isola no interior de sua guarita a prova de balas, protegido do tiroteio aqui fora. Como um líder de Estado se esconde em seu bunker esperando a guerra que nunca fará sentido.

Quem ama tem o direito de se dar e o dever de nada pedir em troca, mas de trabalhar empenhado na construção de um sentimento que se estenda ao outro naturalmente, sem cativeiros e correntes e obrigações impostas. Tudo isso estaria lá, impresso em nossa declaração de amor singular e universal.

Lá estaria escrito que é direito de cada um deixar o amor entrar quando queira. E é seu dever assisti-lo acontecer em um tempo próprio, rápido feito um disparo ou lento tal qual um velho vendedor ambulante, o passo manso, parando aqui e ali em conversas à toa, como quem interrompe uma frase no meio.

Nosso documento universal traria lavrado e atestado que os amantes têm o direito de anunciar seu amor ao mundo e fazer inveja aos outros. Mas têm o dever de respirar fundo a tristeza e ouvir com calma, no quarto de um motel sem alma, na sala fria de uma terapeuta de casais ou na área de serviço de um pequeno apartamento: “eu não gosto mais de você”.

É dever de quem ama aceitar o fim. E que no fim lhe seja guardado o direito ao recolhimento. Que quando preciso cada um se permita esperar no seu canto em merecida mudez, escrevendo cartas a Deus e todo mundo, na mais humana tentativa de combater a tristeza caprichosa que ora irrompe robusta, em enxurradas de choro e avalanches de angústia e desamparo, ora goteja seu chuvisco úmido e melancólico de mágoa.

Quem tem o direito de amar tem o dever da compreensão pura e simples: o amor também pode acabar. Aí só há de restar o adeus e um até breve confiante em seu próximo encontro dia desses, na esquina dos pensamentos soltos, com o respeito devido a quem lhe foi tudo na vida e um dia há de ser somente uma lembrança tranquila e doce.

Nossos embaixadores humanos falariam e ouviriam e celebrariam até tarde, com risos e lágrimas, o trabalhoso ofício de viver e de amar, encerrando seu documento com a frase: “aceitas e respeitadas todas as impressões em contrário”.

E que assim, estabelecidos os modos e ajeitados os pingos em cada i, sejamos enfim tomados por uma coragem simples e imperiosa de assumir o que somos: naturais detentores do divino direito e do sagrado dever de dar e de receber amor."