‘Muitos gays, como o personagem rejeitado
pelo pai na novela, fingem ser héteros para não sofrer discriminação e
preconceito. Eles sofrem de algo que se chama ‘heteronormatividade’
“Na
última semana tivemos cenas ontológicas da situação da homossexualidade na
televisão brasileira.
Nos meus 30 anos de ativismo pelos direitos humanos LGBT, tenho presenciado muitas situações muito parecidas com a vivenciada pelo personagem Félix. Muitos gays fingindo ser héteros para não sofrer a discriminação e o preconceito reinante em nossa sociedade. Eles e Félix sofrem de algo que se chama “heteronormatividade”.
É um termo usado para descrever situações nas quais orientações sexuais diferentes da heterossexual são marginalizadas, ignoradas ou perseguidas por práticas sociais, crenças ou políticas.
Seu pai, Cezar, representa muito bem o papel do machista homofóbico tradicional, espelhando também os religiosos fundamentalistas, que fala de boca cheia que não tem preconceito, mas contratou uma garota de programa para “curar” seu filho. Culpa a mãe pela educação. Ameaça deserdar, ridiculariza e tudo mais. Infelizmente, isso acontece muito na realidade brasileira.
Parabéns
à direção da Rede Globo e da novela Amor à Vida, principalmente Walcyr Carrasco
e todas as pessoas envolvidas.
O personagem Félix (Mateus Solano) foi realmente o grande destaque.
O personagem Félix (Mateus Solano) foi realmente o grande destaque.
Nos meus 30 anos de ativismo pelos direitos humanos LGBT, tenho presenciado muitas situações muito parecidas com a vivenciada pelo personagem Félix. Muitos gays fingindo ser héteros para não sofrer a discriminação e o preconceito reinante em nossa sociedade. Eles e Félix sofrem de algo que se chama “heteronormatividade”.
É um termo usado para descrever situações nas quais orientações sexuais diferentes da heterossexual são marginalizadas, ignoradas ou perseguidas por práticas sociais, crenças ou políticas.
Seu pai, Cezar, representa muito bem o papel do machista homofóbico tradicional, espelhando também os religiosos fundamentalistas, que fala de boca cheia que não tem preconceito, mas contratou uma garota de programa para “curar” seu filho. Culpa a mãe pela educação. Ameaça deserdar, ridiculariza e tudo mais. Infelizmente, isso acontece muito na realidade brasileira.
Na última semana, o município de Três Lagos
(MS) foi palco de uma violência pautada na homofobia que assustou o
Brasil. Um menino de 16 anos apanhou do pai por ser homossexual. Foi a mãe
do menino quem denunciou o marido à Polícia Civil. “Ele bateu na cara do
menino, derrubou ele no chão, montou em cima e continuou dando socos e tapas em
seu rosto e humilhando, dizendo que gay tem que apanhar mesmo, que é lixo,
vagabundo”, contou a mãe à polícia.
A mãe ainda relatou que, para salvar o
menino, ela e os outros filhos o levaram para a casa da avó. Mesmo assim, o pai
foi até lá e voltou a agredi-lo. “Bateu a cabeça do menino no chão e dizia que
estava ‘endemoniado’ e que iria tirar o capeta dele na unha”, contou – bem
ao gosto de certos pastores fundamentalistas cujos nomes não citarei.
O
próprio pai levou o jovem ao hospital após as agressões. Segundo testemunhas, o
pecuarista amarrou uma corda na perna do menino, ameaçou jogá-lo para fora do
carro e arrastá-lo pela rua. A mãe do menino pediu medidas protetivas para que
o pai não se aproxime dela e do filho.
Este é apenas um caso dos mais de 9.982 violações que a Secretaria de Direitos Humanos (SDH) da Presidência da República divulgou, no mês passado, o Relatório sobre Violência Homofóbica 2012, elaborado a partir de registros do Disque 100, da própria SDH, do Ligue 180, da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), e da Ouvidoria do Sistema Único de Saúde (SUS), do Ministério da Saúde.
Este é apenas um caso dos mais de 9.982 violações que a Secretaria de Direitos Humanos (SDH) da Presidência da República divulgou, no mês passado, o Relatório sobre Violência Homofóbica 2012, elaborado a partir de registros do Disque 100, da própria SDH, do Ligue 180, da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), e da Ouvidoria do Sistema Único de Saúde (SUS), do Ministério da Saúde.
O documento aponta um crescimento de 166,9%
no total de denúncias sobre violência homofóbica em relação a 2011 – o número
de casos denunciados saltou de 1.159 para 3.084. Já o número de violações –
cada denúncia pode contar mais de uma violação – subiu de 6.809 para 9.982, o
que indica um aumento de 46,6% em relação ao ano anterior.
Também nesta última semana o papa Francisco
falou de forma enfática: “Se uma pessoa é gay, procura Deus e tem boa vontade,
quem sou eu, por caridade, para julgá-la? O catecismo da Igreja Católica
explica isso muito bem. Diz que eles não devem ser discriminados, mas
integrados à sociedade. O problema não é ter essa tendência. Não! Devemos ser
como irmãos”. Esta linha de pensamento do papa, bem como a discussão da novela,
uma das mais assistidas do Brasil, traz a discussão para os lares brasileiros.
Esta realidade tem de ser amenizada, ou
melhor, acabar. Para isso, precisamos que a criminalização da homofobia no
Brasil seja aprovada – PLC 122 – e que os gestores da educação tenham e
efetivem o compromisso de planos e ações para respeito à diversidade do ser
humano, inclusive o respeito à diversidade sexual.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.